30 de mai. de 2011

Americana obtém diploma 2 décadas após perder memória

Su Meck tinha dois filhos quando sofreu acidente; reaprendeu a falar, contar e ler; aos 45 anos, completou curso superior

 
A dona de casa norte-americana Su Meck, de 45 anos, obteve na semana passada um diploma de ensino superior duas décadas após perder totalmente a memória. Foi a culminação de uma vida que, em quase todos os sentidos da palavra, começou quando ela tinha 22 anos.
 
A saga de Su, que vive em Gaithersburg (Estado de Maryland), teve início em fevereiro de 1988, quando o ventilador do teto da cozinha de casa caiu sobre sua cabeça. O golpe apagou sua memória, e ela acordou após uma semana de coma com a capacidade mental de uma criancinha. Ela não reconhecia mais seu marido nem seus dois filhos pequenos. Ela mal conseguia falar e não sabia ler nem escrever, caminhar ou comer, vestir-se ou guiar.
 
"Era Su 2.0, na prática ela fora reiniciada", disse Jim Meck, seu marido, um engenheiro de sistemas. Um exame por ressonância magnética mostrou várias fissuras espalhadas pelo cérebro. O ferimento a deixou com amnésia retrógrada completa, a incapacidade de se lembrar do passado - uma condição que às vezes é chamada de "amnésia de Hollywood" porque raramente ocorre fora dos filmes. "Foi literalmente como se ela tivesse morrido, sua personalidade se fora", disse Jim.
 
Jim e Su haviam se conhecido cinco anos antes na Ohio Wesleyan University. Ele estava no 3.º ano e ela era uma caloura. Eles deixaram a faculdade depois que ele se formou e casaram-se.
 
Quando Su despertou do coma, os poucos lampejos de recordação foram breves e fugazes. Amigos e entes queridos agora eram estranhos. Muitos achavam insuportável o olhar vazio de Su. Ela deixou o hospital dois meses depois, após ter completado uma lista de tarefas, como andar de bicicleta, preparar uma refeição e ler um livro simples para crianças.
 
Buraco. Su teve ajuda - de parentes e de uma acompanhante -, mas voltar à vida de esposa e jovem mãe foi uma espécie de queda livre. Havia um grande buraco no centro. Quem era ela? Por que havia se casado com esse homem, se mudado para essa casa, tido esses filhos?
 
Para complicar, logo após a lesão, Su não conseguia formar novas memórias. Ela acordava todos os dias numa casa cheia de estranhos. Transcorreram muitos anos até ela conseguir se lembrar de onde havia estacionado o carro num shopping. A caminho de casa, ela circulava pela vizinhança, pressionando o controle da porta da garagem para descobrir qual era a sua - na maioria das vezes, era salva por Benjamin, de 24 anos, o mais velho dos três filhos de Su. O do meio, Patrick, está com 23. Kassidy, o único filho de cujo nascimento Su se lembra, tem 18.
 
Falar ao telefone era desorientador nos primeiros anos, então Su e a família se comunicavam por cartas. Su escrevia as suas com a ortografia e a caligrafia de uma criança. Ela aprendeu tabuada com os filhos e trabalhou como voluntária na biblioteca escolar para poder se esconder nas pilhas e ler.
 
Dezenove anos depois do acidente, em 2007, Su entrou numa sala de aula como se fosse pela primeira vez. Os próprios filhos já estavam indo para a universidade. Su queria ser conhecida por algo mais que uma mãe e esposa. Suas primeiras aulas foram de sociologia, administração de estresse e recuperação de matemática - aos 42 anos, Su ainda estava multiplicando por adição repetida. Su aprendia devagar - seu marido lia oito páginas enquanto ela lia uma. Ela lia passagens difíceis várias vezes para poder se lembrar delas.
 
Su perseverou na busca de um diploma universitário - um curso técnico de bateria, instrumento musical que aprendeu a tocar na adolescência, embora não se recorde, e retomado quatro anos atrás. Aí, nota-se um traço da mesma resolução obstinada que impulsionou seus hábitos de estudo obsessivos quando Su estudava na Ohio Wesleyan.

"Acho que essa parte de sua personalidade permaneceu nela", disse sua irmã Barb. Os colegas do Montgomery College só souberam que Su passou duas décadas de sua vida adulta sem nenhuma lembrança das duas décadas anteriores no último semestre do curso. Não queria que se apiedassem dela. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK


PARA ENTENDER
 

A perda de memória é um dos efeitos colaterais mais comuns de lesão cerebral traumática. Quanto pior a perda da memória, mais grave deve ser o dano cerebral. Em casos mais leves, a memória retorna após semanas ou meses, quando o inchaço do cérebro passa. Mas danos em neurônios e axônios podem causar problema permanente, a menos que o cérebro se adapte e forme novas conexões neuronais.

Fonte:

 
Daniel de Vise, do The Washington Post - O Estado de S.Paulo (29/05/11)
_____________________________________
 
Exemplo de esforço e amor à vida!
 
Luciana

Nenhum comentário:

Postar um comentário