31 de mar. de 2011

Preconceitos em pauta

O deputado Jair Bolsonaro (PP- RJ) causou muita polêmica ao declarar em entrevista ao CQC da Rede Bandeirantes que é “promiscuidade” a possibilidade de um filho seu ter relacionamento com uma mulher negra.

A Constituição Federal em seu artigo 5o, inciso IV: "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato." 

Entretanto, no mesmo artigo, caput diz: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade."

E já o inciso XLII preconiza: "a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei."

No dia seguinte, depois que um grupo de deputados iniciou movimento pedindo sua punição, Bolsonaro voltou a fazer declarações polêmicas ao chegar para o velório do ex-vice-presidente José Alencar no Palácio do Planalto. Desta vez o alvo foi o preferido do parlamentar, o movimento gay:

“Estou me lixando para o movimento gay. O que eles têm para oferecer? Casamento gay? Adoção de filho por gay? Nada disso acrescenta nada”, disse Bolsonaro.

Primeiro, o movimento GLBT não quer que ninguém tenha mais direitos que outro cidadão. Apenas o que é comum e ninguém dá valor: pensão, herança, plano de saúde, direito à adoção, casamento civil. Isso não é apoiar ou não a causa, mas respeitar o homossexual como cidadão e pessoa, que também paga impostos.

Desta maneira, o "excelentíssimo" deputado tem o direito de se expressar, pois vivemos numa democracia. Ninguém está querendo cassar a palavra e a liberdade de expressão do deputado. Diga o que quiser, quando e como bem entender. No entanto, por uma questão de decoro, respeito à Constituição e ao próximo, só não deve fazê-lo da Câmara na posse de um mandato representativo.

Os políticos racistas, homofóbicos e preconceituosos só estão no poder, porque o povo os elegeu. Racismo de todos os gêneros e espécies é crime, tanto na esfera cível como na criminal. Da próxima vez, investiguem o passado do candidato, sua postura diante de assuntos polêmicos e, principalmente, diante da ética. Não é ser "politicamente correto", mas respeitar o próximo, mesmo que incomode.

Respeitar o próximo é se respeitar.

Luciana


30 de mar. de 2011

O papel da família e da escola na aprendizagem da leitura e da escrita

O papel da família é de suma importância para o desenvolvimento intelectual do aluno, pois é neste contexto, que o educando tem o primeiro contato com a leitura. Desta forma, é no ambiente familiar que o mesmo aprende sua primeira educação, deste modo, ele se relaciona com todo o conhecimento adquirido durante sua experiência de vida primária que vai refletir na sua vida escolar. Sendo assim, o sucesso do trabalho da escola depende da colaboração familiar ativa.

Segundo López (2002 p. 24): “A educação dos primeiros anos consiste precisamente na promoção de todos esses aspectos sociais e de autonomia pessoal que logo servirão de base para a educação intelectual mais estrita”.

Ou seja, a responsabilidade da educação Infantil depende, cada vez mais, da interação entre a escola e a família. Logo, ter diálogo de comunicação entre ambos, respeitar e acolher os saberes dos pais e ajudar-se mutuamente. Estes são alguns fatores que proporcionam e beneficiam a aprendizagem da criança que servirão de suporte para a educação escolar.

Além disso, a tarefa de ensinar e praticar a leitura não compete apenas à escola, pois o aluno aprende também através da família, dos amigos, das pessoas que ele considera significativas no seu cotidiano. A pergunta feita neste momento é: de quem é a responsabilidade de desenvolver o interesse da leitura no aluno?

Sabemos que existe a influência dos pais e professores. Em relação aos pais, estes devem ser “espelhos” para visão dos filhos, organizarem a biblioteca pessoal para eles, educando-os para o despertar pelo gosto da leitura, organizar o horário dos mesmos desde que reservem o tempo da leitura, resolver os trabalhos escolares junto com eles e acompanhar o desenvolvimento do aluno na escola.

Em relação aos professores, as responsabilidades também são muitas. Eles devem aproveitar a empolgação do aluno quando quiser ler apresentar livros que venham ao encontro das necessidades do mesmo, demonstrando o hábito de leitura para os educandos.

Desde cedo, os pais precisam transmitir aos filhos os seus valores, como, ética, cidadania, solidariedade, respeito ao próximo, enfim, pensamentos que o leve a ser um adulto flexível, que saiba resolver problemas, que esteja aberto ao diálogo. Que o educando, através do incentivo dos pais, passe valorizar a leitura e que a mesma possa fazer parte da sua vida cotidiana e para o seu desenvolvimento progressivo no campo do saber.

Portanto, uma criança com hábito de leitura, cresce bem preparada para enfrentar os desafios da vida, pois desenvolve grande capacidade de leitura e interpretação, além de possuir uma grande facilidade de descobrir o signicado de certas palavras, o que facilita suas produções textuais, sua oralidade e colocações em público.

Sendo assim, para desenvolver este hábito na criança é necessário proporcionar-lhe o contato com os livros. Neste caso, ouvir uma história lida pelo pai, mãe, avós, irmãos, etc; são algumas situações que enfatizam a presença de um leitor e que despertem o interesse pela leitura. Contudo, ressalta-se que o ideal seja começar desde a educação infantil, pois, quanto mais cedo mais fácil será a aceitação deste hábito.

López (2002. P. 83) confirma: “(...) a educação não depende de si mesma, mas em grande parte do papel que desempenha a família dentro e fora da escola”.

A vida familiar e escolar se completa, tornando-se necessária para o bem-estar do educando. A participação dos pais na educação dos filhos deve ser de forma constante e consciente, pois, a educação é um processo global, que se dá não só na família e na escola, mas em toda a sociedade.

Segundo a LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº 9.394 (1996) afirma que:
A educação dever da família e do estado inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, têm por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e suas qualificações para o trabalho.

Diante desta afirmação, nota-se uma preocupação com a dimensão intelectual na educação, pois a escola deve empenhar-se na formação educacional de seus alunos, embora que não seja a única instituição social que participa dessa formação.

A família é responsável pelos primeiros passos da aprendizagem precoce do educando, proporcionando-o conhecimentos e experiências diante da sua realidade social, como forma de acesso para construção de novas aprendizagens no contexto social e escolar.

Assim, não precisa ser letrado para exemplificar a vida. Os melhores exemplos de integração escola/família estão entre as comunidades mais participativas, ainda que menos favorecidas economicamente, e não entre as mais educadas.

De acordo com esta realidade, López (2002. P. 80) relata: “Quando os pais se sentem especialmente chamados a participar, digamos, a preocupar-se com a escola? Quando surge uma situação que afeta diretamente seus filhos”.

É notório observar esta realidade na educação escolar atual, pois os pais que não têm tempo para nada acabam deixando a vida escolar do seu filho sob responsabilidade da escola.

Portanto, os verdadeiros pais são aqueles que se preocupam e dialogam com seus filhos.
Verificam o boletim escolar, participam das reuniões de pais e mestres, enfim, um simples bom dia ou boa tarde, é essencial para que o filho perceba a importância que seus pais possam proporcionar-lhe.






Fontes:


LÓPEZ, Jaume Sarramona I. Educação na família e na escola. Edições Loyola, São Paulo, 2002.

Interpretação de textos

Para analisar e interpretar textos é preciso saber ler.

Mas, como aprender a ler?

Lendo. Alguém que deseje aprender a nadar terá de, inevitavelmente, entrar na água. O mesmo ocorre com a formação de um leitor: se ele não se dedicar ao exercício da leitura, debruçando-se sobre poemas, notícias e crônicas de jornal, romances, ensaios etc., jamais aprenderá a ler.

Mas a verdadeira leitura pressupõe compreensão. Não basta passar os olhos sobre as palavras, mas é preciso entender o significado delas - ou, pelo menos, aproximar-se do que o autor pretende transmitir. E, depois, para realmente analisar o objeto da nossa leitura, devemos proceder à identificação das características, dos atributos, das propriedades do texto.

Textos denotativos - um ensaio, uma dissertação, uma notícia ou reportagem - são escritos em linguagem conceitual. Esse tipo de texto - racional, que se apoia em conceitos, leis, princípios ou normas - pede do leitor uma postura objetiva.

Já os textos conotativos - a poesia e os gêneros de ficção, incluindo algumas crônicas - exigem de nós uma postura subjetiva, pois são escritos em linguagem poética. Ou seja, são textos que exploram aquele conjunto de alterações ou de ampliações que uma palavra pode agregar ao seu sentido literal (ou denotativo). Os meios para se alcançar esse tipo de expressão envolvem as diversas figuras de linguagem, a criação de personagens e uma infinidade de associações entre os vocábulos, criando, muitas vezes, um mundo à parte.

Para esses dois tipos de textos podemos estabelecer algumas regras gerais de leitura:

1. Cada novo texto é, também, um novo universo. Para apreender o que o autor pretende transmitir, devemos estar abertos ao novo. Então, antes de iniciar a leitura, procure esquecer o que lhe disseram sobre o autor - as críticas e os elogios -, e aproxime-se do texto sem preconceitos;

2. Se for um texto curto - artigo, notícia, crônica, conto, etc. -, leia-o integralmente, procurando captar o seu sentido geral, e só depois, reiniciando a leitura, proceda assim:

a) procure, no dicionário, cada uma das palavras desconhecidas ou cujo sentido lhe pareça estranho, duvidoso;
b) sublinhe ou circule, em cada parágrafo, a frase que expressa a ideia central daquele trecho;
c) faça anotações nas margens do texto, mas de maneira que elas expressem o seu pensamento, as suas interrogações, as suas concordâncias ou discordâncias, relacionando o texto às suas vivências pessoais e a outras leituras que você, porventura, tenha feito.

3. Se o texto for longo - romance, ensaio, tese, peça de teatro etc. - siga os passos acima, mas desde o primeiro momento da leitura;

4. Não tenha preguiça. A leitura exige, muitas vezes, que voltemos ao início do texto ou do capítulo, que retrocedamos alguns parágrafos, a fim de retomar certa ideia ou rever o comportamento, a fala de uma personagem;

5. À medida que você decodifica as palavras, procure relacioná-las com o todo. Ou seja, compreenda as palavras dentro do contexto (o conjunto de frases, o encadeamento do discurso);

6. Enquanto lê, estabeleça um duplo diálogo: com o autor e com você mesmo;

7. Quando o texto usar a linguagem conceitual, não faça uma leitura tímida: imagine-se concordando e, também, discordando das ideias expostas. Coloque-se no papel de defensor e de opositor. Depois, forme seu próprio julgamento;

8. Quando o texto utilizar a linguagem poética, imagine a cena, coloque-se no lugar das personagens. Muitas vezes, poemas e textos de ficção tratam de realidades completamente diferentes da nossa, o que exige uma leitura sem preconceitos. Não tenha receio: entre os gregos, transforme-se em grego;

9. Não seja um leitor crédulo, não acredite com facilidade em tudo que lê. Num texto conceitual, seja implacável com a argumentação do autor: ele realmente convenceu você? Quais as partes frágeis do texto? Quais as qualidades? Aja da mesma forma em relação ao texto poético: o enredo convenceu você? A história é verossímil (transmite a impressão de verdade) ou imperfeita, defeituosa? O bom leitor nunca é ingênuo;

10. Numa prova, não se esqueça:

a) leia o texto com calma, duas ou três vezes;
b) a cada questão, retorne ao texto e esclareça suas dúvidas;
c) esteja atento ao enunciado da questão, pois, muitas vezes, ele exigirá que você leia não só o trecho citado, mas um ou mais parágrafos;
d) muitas vezes, a resposta correta não corresponde exatamente ao que está no texto, mas apenas se aproxima do sentido geral.

Fonte:
UOL Educação

28 de mar. de 2011

No dia mundial da água, entenda como ela é fundamental também no vestibular - Guia do Estudante

No dia mundial da água, entenda como ela é fundamental também no vestibular - Guia do Estudante

Usuários passam 41 horas por semana em redes sociais

Um estudo feito pela empresa E.life indica que os usuários brasileiros de redes sociais dedicam, em média, 41 horas por semana à internet.

Mostra, também, que 44,8% deles usam o celular para acesso à web. Este último número vem crescendo rapidamente. Um ano atrás, em outra pesquisa, só 34,4% das pessoas consultadas disseram que navegavam com o celular.
 
Segundo a E.life, o equipamento mais utilizado para a navegação ainda é o computador de mesa, citado por 82,2% das pessoas, sendo que, na pesquisa, essa pergunta admitia mais de uma resposta. Em segundo lugar, vem o notebook. Mas, sem citar números, a empresa diz que cresceu o número de acessos via netbooks, iPod Touch, consoles de jogos, tablets e televisores.

Segundo o levantamento, o principal interesse dos usuários no Twitter é a informação, com destaque para a busca de atualidades. Já no Facebook, no Orkut e no MSN, o cultivo dos laços sociais é que motiva o acesso.

Outro dado levantado na pesquisa é que 88,3% das pessoas pesquisam preços na web antes de comprar algum produto. Já 74,3% completam a compra pela internet.

A pesquisa da E.life foi feita com 945 usuários de redes sociais no Brasil, no período de novembro de 2010 a janeiro de 2011. Ela foi divulgada principalmente via Facebook e Twitter. Por isso, não reflete, necessariamente, o comportamento dos usuários de outras redes sociais, como o Orkut.

Fonte:
Info Exame, de 25/03/11

25 de mar. de 2011

Debate: A decisão sobre a Lei da Ficha Limpa pelo STF foi acertada?

SIM

É uma posição histórica e conhecida da Ajufe, a defesa da ética e do princípio da moralidade na política brasileira. É uma necessidade a imediata discussão sobre uma reforma política séria que deixe claras as regras do jogo eleitoral. A sociedade não aceita mais cenas chocantes envolvendo dinheiro da corrupção encontrado nas meias e cuecas e sucessivas incompreensões entre Poderes.

O julgamento do STF que resolveu por 6 a 5 pela validade da Lei da Ficha Limpa a partir das eleições de 2012 é um exemplo claro da necessidade de maior harmonia entre os Poderes. Evidentemente que se esperava que o resultado fosse no sentido de se aplicar a lei já.

A Ajufe defendeu a Lei da Ficha Limpa desde a sua elaboração no Congresso. Todavia, a decisão do STF, por escassa margem, precisa ser respeitada. Não cabe ao STF atender a anseios populares ou à opinião pública. A decisão foi sólida e bem fundamentada. Positiva no sentido de rejeitar qualquer inconstitucionalidade neste momento, o que permite impedir que fichas-sujas concorram a partir de 2012.


Gabriel Wedy, Presidente da Associação dos Juízes Federais.
_________________________

NÃO

As teses em debate no STF sobre a Lei da Ficha Limpa foram sustentadas em premissas dignas de elevada consideração, mas uma delas se revelava mais adequada: a de que o princípio da anualidade não alcança as normas que impõem medidas de proteção da sociedade sem promoção de desequilíbrio entre as forças em disputa.

O entendimento adotado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral é o de que apenas normas capazes de desequilibrar os pleitos eleitorais restam submetidas ao disposto no referido art. 16 da Constituição. Essa orientação pode ser encontrada na própria jurisprudência do STF, que admitiu a aplicação da Lei da Minirreforma Eleitoral às eleições de 2006. O fato é que respeitamos a decisão do Supremo, ao passo em que nos consideramos vencedores nessa luta contra o indesejável contato instituído entre o crime e parcela dos detentores de mandatos eletivos. Mas a lei não precisará esperar 2012. Eleições suplementares que ocorrerem a partir de 5 de junho estarão submetidas à Ficha Limpa.

Márlon Jacinto Reis,  Juiz e Presidente da Ass. Bras. dos Magistrados, Procuradores e Promotores eleitorais.

O Estado de S. Paulo, 26/03/11

A importância de ater-se à resolução na Líbia

A intervenção militar internacional na Líbia não tem como objetivo os bombardeios em nome da democracia ou a derrubada do coronel Muamar Kadafi - e muito menos manter baixos os preços do petróleo ou os lucros altos. Sua única justificativa do ponto de vista legal, moral, político e militar é proteger os líbios do massacre ao qual, há quatro semanas, Kadafi condenou manifestantes desarmados.

Quando isto terminar, a missão dos militares estará concluída. A mudança de regime caberá ao próprio povo líbio. Não deveria ser necessário reiterar e reafirmar estes pontos básicos. Mas na realidade é preciso. Apesar dos esforços do presidente dos EUA, Barack Obama, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e de outros que se demonstraram admiravelmente preocupados e coerentes, outras vozes - à direita, à esquerda ou menos definidas - agora estão chamando a atenção da imprensa, e começam a perder de vista, ou pelo menos a confundir, a mensagem básica.

Os senadores americanos John McCain e Joseph Lieberman, por exemplo, disseram que o objetivo deve ser não apenas a proteção dos civis, mas também a derrubada de Kadafi do poder. O ministro da Defesa britânico, Liam Fox, sugeriu que Kadafi deve ser o alvo principal. E, do outro lado, muitos comentaristas - ansiosa ou cinicamente, conforme o gosto - traçaram paralelos com o Iraque e outros abusos do poderio militar ocidental, no passado. Muitos ainda falam num inexorável avanço para um pântano semelhante ao do Afeganistão.

Para esclarecer estes pontos, a melhor maneira de começar é pela análise das duas resoluções do Conselho de Segurança da ONU. A primeira, a Resolução 1970, adotada em 26 de fevereiro, invocava "a responsabilidade das autoridades líbias de proteger sua população", condenava sua violência contra civis, exigia o fim da violência e procurava visar as intenções de Kadafi aplicando sanções específicas, um embargo de armas, e a ameaça de processo por crimes contra a humanidade.

A segunda Resolução, de número 1973, adotada no dia 17, deplorava o não cumprimento da Resolução 1970, reafirmava a determinação de garantir a proteção dos civis, e pedia um cessar-fogo imediato e o fim completo dos violentos ataques e os abusos contra os civis. Então, pela primeira vez na história, o conselho autorizou explicitamente a intervenção militar dos países-membros para atingir estes objetivos.

A ação militar coercitiva tomou duas formas: "todas as medidas necessárias" para a adoção de uma zona de exclusão de voos, e "todas as medidas necessárias para proteger os civis e as áreas habitadas por civis ameaçadas de ataque". A invasão terrestre foi excluída.

A linguagem destas resoluções não poderia ser mais clara na prescrição do alcance e dos limites do que deveria ser feito. No caso da adoção da zona de exclusão de voos, a Resolução 1973 permitia a destruição, por meio de aviões ou mísseis, de todos os aviões e helicópteros leais ao ditador que decolassem, todas as baterias antiaéreas ou locais de lançamento de mísseis das forças favoráveis a Kadafi e a destruição de todas as pistas de aterrissagem.

E, quanto ao mandato mais amplo referente à proteção dos civis, a resolução permitia os ataques aéreos para neutralizar tanques ou colunas de tropas que avancem sobre Benghazi ou outras cidades nas mãos dos rebeldes, e - caso existam - concentrações de forças nas áreas que representam uma ameaça imediata aos rivais de Kadafi.

Em ambos os casos, levantam-se algumas questões. Constará do âmbito da zona de exclusão de voos apoderar-se dos centros de controle e de comando que poderiam orientar os aviões? Será legítimo aniquilar forças do regime que, na realidade, estão fugindo de uma área protegida, ou que não representam uma ameaça óbvia ou iminente para os civis? Seria conveniente estabelecer uma linha que permita distinguir as ações legítimas contra as forças de Kadafi que possam pôr em risco civis inocentes? Além destas perguntas, não há o que debater.

Uma ação militar expressamente destinada a matar Kadafi ou a obrigá-lo a ir para o exílio, a garantir uma vitória dos rebeldes em uma guerra civil, ou a estabelecer um sistema de governo mais aberto e mais dinâmico na Líbia, não é permitida pelos termos claros da Resolução 1973. Tampouco é permitida pelos princípios morais da doutrina da "responsabilidade de proteger" endossada por unanimidade pela Assembleia-geral da ONU em 2005, na tentativa de acabar, uma vez por todas, com as atrocidades em massa. Indubitavelmente, estes resultados podem ser a consequência de uma ação militar permitida, mas não podem constituir seu objetivo.

Destes princípios legais e morais segue-se também que, se existirem motivos razoáveis para se acreditar que a ameaça às populações civis foi eliminada ou neutralizada (como parece ter ocorrido agora, pelo menos no leste do país), a ação militar deve cessar.

Evidentemente, será preciso continuar monitorando a situação, para que seja possível retomar instantaneamente a ação conforme a Resolução 1973. Mas os ataques aéreos cuja base está em alto mar e cujo objetivo está nitidamente definido e limitado, são muito menos suscetíveis aos problemas da ampliação de uma missão e ao impasse que frequentemente paralisam as forças de intervenção terrestres, principalmente as que têm um mandato tipicamente confuso, como no Afeganistão.

À medida que a situação se desenrolar na Líbia e no Oriente Médio em geral, os estrategistas terão de enfrentar novos problemas mais agudos, principalmente para responder à contínua repressão em Trípoli, ou à situação igualmente ruim e frágil no Bahrein e no Iêmen. Reunir a vontade política multicultural para proteger pessoas de carne e osso será sempre uma missão difícil.

Mas, pelo menos no caos da Líbia, foi estabelecido um precedente vital. O CS redigiu o texto certo; agora, precisamos fazer o possível para nos atermos a ele.

Por
Gareth Evans, ex-chanceler da Austrália e Presidente honorário do Internacional Crises Group.
O Estado de S. Paulo, 26/03/11

*meus grifos.

24 de mar. de 2011

Ficha Limpa só em 2012

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da Lei da Ficha Limpa foi uma vergonha para o Brasil.

A iniciativa do projeto da Ficha Limpa foi popular. 1,3 milhões de assinaturas expressaram a vontade do povo contra os maus candidatos. Isto quer dizer, melhorar o perfil de candidatos e candidatas a cargos eletivos no Brasil.

 
Claro, que as Leis devem ser seguidas, e no caso, a nossa Constituição Federal obedecida. No entanto, da mesma forma que a sociedade precisa acompanhar a evolução da tecnologia, do mundo, enfim, dos novos tempos, as leis e a vontade de uma nação também devem seguir o processo de transformação.

O novo Ministro Luiz Fux, nomeado pela Presidente Dilma Roussef desempatou a votação, argumentando que seguiu o princípio da anualidade, ou seja, não pode mudar as regras um ano antes das eleições. A decisão foi apertada. Foram seis votos contra a aplicação da Lei da Ficha Limpa, no ano de 2010. Os ministros mais conservadores e tradicionais do STF venceram mais uma batalha política, beneficiando os "Jader Barbalhos", os "mensalões".
Foi uma decisão muito mais política do que técnica e não da "boa norma jurídica".

Luciana

Egito e Tunísia são Estados com história, um território e fortes identidades nacionais, já a Líbia é uma nação com fronteiras criadas que aprisonam uma miríade de tribos e seitas

David Kirkpatrick, o diretor da sucursal do The Times no Cairo, escreveu um artigo na Líbia, na segunda-feira, que levantava uma questão fundamental, não apenas a respeito da Líbia, mas de todas as novas revoluções que fermentam no mundo árabe. "A pergunta paira sobre o levante líbio desde o momento em que o primeiro comandante de um tanque desertou para unir-se aos seus primos que protestavam nas ruas de Benghazi: "A batalha da Líbia é o violento confronto de um ditador brutal contra uma oposição democrática, ou é fundamentalmente uma guerra civil tribal?""

Esta é a questão, porque no Oriente Médio existem dois tipos de Estados: os "países reais" com longas histórias, um território e fortes identidades nacionais (Egito, Tunísia, Marrocos, Irã); e os que podemos chamados "tribos sob uma bandeira", ou Estados mais artificiais com fronteiras traçadas em linhas retas pela pena das potências coloniais, aprisionando no interior destas fronteiras miríades de tribos e seitas que não só nunca se dispuseram a conviver, como também nunca se fundiram plenamente em uma família unificada de cidadãos. São eles a Líbia, Iraque, Jordânia, Arábia Saudita, Síria, Bahrein, Iêmen, Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos.

As tribos e as seitas que constituem estes Estados artificiais permaneceram unidas durante muito tempo pela mão de ferro de potências coloniais, reis ou ditadores militares. Elas não têm "cidadãos" no sentido moderno. Ali, a rotatividade democrática no poder é impossível porque cada tribo se pauta pelo lema "governar ou morrer" - ou minha tribo ou seita está no poder ou nós estamos mortos.

Não por acaso, as rebeliões em nome da democracia no Oriente Médio começaram em três dos países reais - Irã, Egito e Tunísia - cujas populações são modernas, com grandes maiorias homogêneas que põem a nação antes da seita ou da tribo e têm uma confiança mútua suficiente para se unirem como uma família: "todo mundo contra papai". Mas como estas revoluções espalharam-se pelas sociedades mais tribais/sectárias, torna-se difícil perceber onde termina a busca de uma democracia e onde começa o desejo de que "minha tribo assuma o poder que está nas mãos da sua tribo".

No Bahrein, uma minoria sunita, 30% da população, governa uma maioria xiita. Existem muitos sunitas e xiitas bareinitas - os chamados sushis, que se fundiram por meio de casamentos intertribais - que têm identidades políticas modernas e aceitariam uma verdadeira democracia.

Guerra sectária. Mas há muitos outros bareinitas que consideram a vida como uma guerra sectária de resto zero, que inclui os expoentes da linha dura da família dos governantes al-Khalifa, que não têm nenhuma intenção de pôr em risco o futuro dos sunitas bareinitas sob um governo de maioria xiita. É por isso que no Bahrein os fuzis apareceram muito cedo: governar ou morrer. O Iraque ensina o que é necessário para democratizar um grande país árabe com várias tribos, uma vez expulso seu líder com mão de ferro (neste caso, por nós). São necessários bilhões de dólares, 150 mil soldados americanos para arbitrar a situação, miríades de vítimas, uma guerra civil em que cada parte precisa testar o poder da outra, e depois um processo muito doloroso, que nós ajudamos a criar, para que seitas e tribos iraquianas redijam sua própria Constituição, definindo como deve ser a convivência sem uma mão de ferro.

A realização mais importante dos Estados Unidos foi levar os iraquianos a redigir seu próprio contrato social. Na realidade, esta foi a experiência liberal mais importante da moderna história árabe, porque mostrou que mesmo as tribos com uma bandeira podem, teoricamente, realizar a transição do sectarismo para uma moderna democracia.

Mas esta é ainda somente uma esperança. Os iraquianos ainda não deram a resposta definitiva às suas indagações fundamentais: O Iraque é como é porque Saddam era como era ou Saddam era o que era porque o Iraque é como é: uma sociedade tribalizada?

Em todos os outros Estados árabes em que agora fermenta a revolta - Iêmen, Síria, Bahrein e Líbia - existe uma guerra civil em potencial como a do Iraque. Alguns talvez tenham sorte, e seu Exército possa se tornar o guia que os conduzirá para a democracia, mas não devemos confiar muito nisso.

Em outras palavras, a Líbia é apenas a etapa inicial de uma série de dilemas morais e estratégicos com os quais nos defrontaremos à medida que estes levantes árabes avançarem entre as tribos com bandeira.

Compreendo até o presidente Obama. Esta questão é complicada e eu respeito o desejo do presidente de impedir um massacre na Líbia. Mas precisamos ser mais cautelosos. O que tornou o movimento pela democracia no Egito tão poderoso foi o fato de o movimento ter sido engendrado pelos próprios egípcios. A juventude egípcia teve milhares de vítimas na luta pela liberdade. E nós deveríamos ser duplamente cautelosos antes de intervir em lugares que poderão entrar em colapso nas nossas mãos, como no Iraque, principalmente quando não sabemos, como no caso da Líbia, quem são na realidade os grupos da oposição - movimentos pela democracia liderados por tribos ou tribos que usam a linguagem da democracia? Por fim, infelizmente, não temos condições de patrocinar isso. Precisamos trabalhar para sanar os problemas do nosso próprio país. Se o presidente está disposto a tomar grandes decisões, decisões difíceis, urgentes, não as deveria tomar, antes de mais nada, para a construção de sua nação, os Estados Unidos, e não da Líbia? Não deveria ele criar primeiramente uma política energética real que enfraquecesse os Kadafis, e uma política orçamentária que garantisse o sonho americano para outra geração? Quando elas começassem a vigorar, eu seguiria o presidente "dos palácios de Montezuma às praias de Trípoli".

Por
Thomas FriedmanColunista do The New York Times, escritor e ganhador do Prêmio Pulitzer.
O Estado de S. Paulo, 24/03/11.

* meus grifos.

23 de mar. de 2011

Energia nuclear vale o risco

Até o dia 11 de março, com o 25.º aniversário do acidente de Chernobyl se aproximando - e as memórias do desastre cada vez mais distantes - as preocupações de segurança não eram mais o argumento definitivo contra a energia nuclear que já foram outrora. Em vez disso, outro medo, o da mudança climática, parecia ser capaz de promover uma "renascença nuclear" conforme os países buscavam fontes energéticas livres do carbono. Mas a crise que se desenrola atualmente na usina nuclear de Fukushima, no Japão, vai trazer a segurança de volta à posição de destaque no debate nuclear.
Até os mais ardentes defensores da indústria reconhecem agora que a crise envolvendo dois dos reatores da usina - transmitida ao vivo pela televisão para todo o mundo - lançou dúvidas sobre o futuro deste ramo.
Independentemente disso, os benefícios da energia nuclear ainda são convincentes. Todas as formas de geração de energia trazem riscos. Os combustíveis fósseis, que (ao menos por enquanto) são os principais rivais da energia nuclear, trazem o risco de uma catastrófica mudança climática. E, como estamos vendo no Japão, não eliminamos os perigos associados à energia nuclear, apesar de os acidentes serem raros.
A boa administração pública deve pesar estes riscos. Entretanto, não será fácil convencer o público a aceitar os riscos da energia nuclear.
Para fazê-lo, a indústria nuclear terá de resistir à poderosa tentação de dizer que o acidente no Japão é simplesmente uma confluência extraordinariamente improvável de eventos e tudo vai bem. Em vez disso, ela deve reconhecer e corrigir as deficiências da abordagem atual para as questões de segurança.
Em se tratando da segurança, a indústria nuclear enfatiza o conceito de "defesa em profundidade". Os reatores são projetados com camadas de sistemas redundantes de segurança. Há o sistema central de resfriamento, um sistema reserva, uma reserva para o reserva, uma reserva para a reserva do reserva e assim por diante.
Um acidente de grandes proporções só poderá ocorrer se todos esses sistemas falharem ao mesmo tempo. Ao acrescentar camadas de redundância, a probabilidade de um acidente catastrófico deste tipo pode - ao menos em tese - ser considerada desprezível.
A defesa em profundidade é uma boa ideia. Mas sofre de uma falha fundamental: a possibilidade de um desastre desativar todos os sistemas de reserva. Um reator pode ter tantas camadas de defesa quanto desejarmos, mas se todas elas puderem ser desativadas por um mesmo evento, então a redundância contribui muito menos para a segurança do que seria de se pensar. Este tipo de problema ocorreu em Fukushima no dia 11.
Assim que o terremoto foi sentido, os reatores iniciaram procedimentos de emergência: as barras de controle, usadas para modular a velocidade da reação nuclear, foram inseridas nos núcleos dos reatores, desativando as reações nucleares. Até aí, tudo bem. Ainda assim, os núcleos ainda estavam quentes e precisavam ser resfriados. Isto por sua vez exigia eletricidade para ativar as bombas, que injetam água para resfriar o combustível.
Infelizmente, uma das conexões com a rede elétrica externa, projetada para garantir o fornecimento de energia numa contingência deste tipo, foi afetada pelo terremoto. Isto não seria problema, pois havia um sistema reserva. Mas, de acordo com novas notícias divulgadas pela operadora da usina, o defeito em uma das fontes externas de energia provocou uma perda generalizada no fornecimento de energia para a usina.
Mais uma vez, isto não seria problema. Havia um sistema de reserva para o sistema de reserva, sob a forma de geradores a diesel instalados na usina. E, como era de se esperar, estes foram ativados. Mas, 55 minutos mais tarde, os geradores foram atingidos pelo tsunami que se seguiu ao terremoto. A partir daquele momento, os funcionários da usina iniciaram uma luta desesperada para evitar o derretimento dos núcleos.
Os reguladores japoneses sem dúvida estão cientes do perigo representado pelos terremotos; eles levam as preocupações de segurança muito a sério. Como outros edifícios no Japão, os reatores nucleares são construídos para resistir aos tremores. O problema, como sabemos agora, é que existe a possibilidade de estes se tornarem vítimas de eventos ainda mais extremos do que os previstos em seus projetos.
Este problema foi destacado pelo terremoto próximo à usina Kashiwazaki-Kariwa em 2007. O movimento da terra gerado pelo terremoto excedeu os limites de resistência do projeto da usina. Felizmente, um acidente de grandes proporções não ocorreu; os sistemas de segurança funcionaram como o esperado apesar do impacto físico do terremoto. Entretanto, antes que a usina pudesse ser reaberta, novas medidas de segurança foram implementadas para garantir que a instalação fosse capaz de resistir a sismos ainda mais poderosos.
Preocupação. É claro que as questões levantadas pelos terremotos de 2007 e 2011 são relevantes para todo o mundo, e não apenas para o Japão.
O que precisamos agora é de uma avaliação sóbria e cuidadosa daquilo que os engenheiros chamam de "bases de projeto" para todas as usinas nucleares do mundo - as que já estão em funcionamento, as que estão em construção e as que se encontram em fase de planejamento.
Especificamente, precisamos determinar se elas são de fato capazes de suportar toda a gama de desastres - sejam naturais ou provocados pelo homem - que podem afetá-las, de enchentes e terremotos até o terrorismo.
Mesmo após o desastre atual do Japão, é improvável que a indústria nuclear se mostre receptiva a um exercício deste tipo. É quase certo que ela defenda que uma reavaliação generalizada não se justificaria por causa da adequação dos padrões existentes. Mas depois que dois terremotos em menos de quatro anos abalaram os reatores japoneses para além dos limites de seu projeto, este argumento perdeu a credibilidade.
Trata-se de um raciocínio que revela as próprias inconsistências.
Para que haja uma expansão da energia nuclear, o público precisa confiar na indústria nuclear. As pessoas precisam acreditar que as operadoras dos reatores nucleares os usem de maneira segura. Precisam confiar na capacidade dos reguladores de proporcionar supervisão adequada. E talvez o mais importante: precisam confiar na capacidade dos engenheiros de criar reatores que superem as vulnerabilidades dos modelos mais antigos.
Este último ponto é fundamental. Novos reatores, dotados de mecanismos aprimorados de segurança, certamente não teriam sofrido o mesmo destino daqueles na usina de Fukushima, que têm mais de quatro décadas. Mas convencer o público disso será agora muito difícil.
Depois de Chernobyl, a indústria nuclear afirmou que - em se tratando da segurança - os reatores soviéticos do tipo RBMK, como o envolvido no acidente de 1986, eram tão semelhantes a reatores ocidentais modernos quanto um bote inflável se parece com um transatlântico. E eles estavam certos. Mas este argumento teve pouco impacto, pois a indústria nuclear tinha perdido a confiança do público.
É vital que a indústria nuclear não cometa agora o mesmo erro. Ela não deve tentar empurrar as questões de segurança para baixo do tapete ao dizer às pessoas que tudo está bem e não há motivo para preocupação.
Esta estratégia simplesmente não vai funcionar. Mas reconhecer a existência de um problema e trabalhar na sua solução pode ser mais convincente.

Por
James M. Acton, associado ao Programa de Políticas Nucleares do Carnegie Endowment for Internacional Peace.
O Estado de S. Paulo, 21/03/11
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Opinião:

As usinas nucleares de Angra 1 e 2 já custaram a nós, brasileiros, mais de R$ 54 bilhões e consomem diariamente cerca de R$ 1 milhão. Apesar desse enorme investimento, geram só 2% da energia produzida no país. Para construir Angra 3, mais R$ 10 bilhões serão consumidos.

Usinas nucleares são caras e perigosas. Acidentes nessas instalações podem ter efeitos e custos incalculáveis. O desastre ocorrido em 1986, na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, quando um dos quatro reatores explodiu, deixou milhares de mortos e milhões de contaminados. Reatores e instalações geram grande quantidade de lixo nuclear, que precisam ficar sob vigilância por milhares de anos e não se conhece técnica 100% segura para seu armazenamento.

O Brasil precisa dar um basta definitivo à sua aventura nuclear.

Não estamos preparados, já que somos imediatistas para uma tragédia nuclear. Não têm na rede hoteleira da região de Angra dos Reis avisos, explicando o que fazer, caso aja um acidente.

Para que se sujeitar a perigos, na temerosa indústria nuclear, se temos outros meios de gerar energia, num país "abençoado por Deus e bonito por natureza".

Temos que ser mais conscientes no uso da energia. Prédios ficam 24 horas, 365 dias por ano com suas luzes acesas! Por quê?


22 de mar. de 2011

Século das novas luzes

A periodização da história, especialmente quando escalonada em séculos, é um artifício para se delimitar, de algum modo, a passagem do tempo. Assim, o historiador Eric Hobsbawn chamou de curto o século 20 porque, a rigor, o corte inicial, segundo ele, inicia-se em 1914, com a eclosão da 1ª Guerra Mundial, e o corte final ocorre em 1991, com o colapso da União Soviética.

Qilai Shen/The New York Times
Qilai Shen/The New York Times
 
Citigroup prevê que PIB chinês superará o dos Estados Unidos em 2020; HSBC calcula que será em 2045
Tomando como ponto de partida essa cronologia e com a vantagem da visão retrospectiva, podemos afirmar, em poucas palavras, que o século 20 foi marcado pela tragédia. Morticínio provocado por duas grandes guerras, emergência dos totalitarismos na Rússia, na Itália e na Alemanha, massacre dos judeus, ciganos, “deficientes” físicos ou mentais pela horda nazista.
É possível matizar essa visão profundamente negativa lembrando que, nos dias de hoje, as guerras mundiais são muito improváveis, os regimes totalitários foram derrotados e, mais ainda, que após dois conflitos sangrentos no último século, para não falar da guerra franco-prussiana de 1870–1871, Alemanha e França tornaram-se aliados, com um papel central na União Europeia.
Podemos interpretar o século 20 com ênfases diversas, ou mesmo contrastantes, mas ninguém contesta os fatos que sucederam ao longo de seu decorrer, se jogarmos na lata do lixo “os assassinos da memória”, negadores do Holocausto, como os chamou o historiador francês Pierre Vidal- Nacquet.
Viremos a página para encarar o adolescente século 21, com pouco mais de 11 anos de existência. Quase 90 anos cobertos de neblina surgem diante de nós, ou melhor, das novas gerações, pois muito poucos dos vivos de hoje permanecerão vivos na próxima virada de século.
Nos dias que correm, Clio já nos preparou uma surpresa. Quem poderia prever as revoltas dos povos árabes, estendendo-se dos países do Golfo Pérsico à Argélia, no Norte da África? Certamente essas revoltas terão desfecho diverso e algumas delas poderão fracassar, como é o caso da Líbia. Mas elas vêm demonstrando a inconsistência da afirmação, tantas vezes repetida, de que a cultura dos povos árabes é incompatível com a democracia.
Certamente o ritmo da evolução democrática no mundo ocidental, apesar das ameaças crescentes ao direito das minorias, com fortes traços de xenofobia, não se compara com o quadro existente no Oriente Médio. Mas o fato é que pelo menos uma parcela dos manifestantes dos dias de hoje, além de buscar emprego e uma vida decente, luta pelo direito à livre expressão – um direito que passa pela derrubada de ditadores e tiranos.
Na esfera da economia, o século 21 aparenta ser o século da China, acompanhado de uma queda relativa dos Estados Unidos e mais acentuada dos países da União Europeia. Entretanto, os relatórios recentes dos grandes bancos divergem em seus prognósticos. Num extremo, o Citigroup prevê que já em 2020 o PIB chinês superará o dos Estados Unidos; no outro, o HSBC calcula que a ultrapassagem ocorrerá por volta de 2045. O PIB, por si só, não mede a qualidade de vida da população, pois pouco ou nada diz sobre a renda per capita e o PPP (poder paritário de compra) dos diferentes países, e aí a China tem um longo e complicado caminho a percorrer.
Entretanto, até por volta de 1980 alguns economistas e sociólogos falavam do Japão como a futura potência hegemônica, em contraste com o declínio americano. Hoje, apesar de ainda ser a terceira economia do mundo, o Japão vive uma longa recessão que a recente catástrofe sísmica, infelizmente, deverá agravar.
De uma forma ou de outra, o século 21 seria então, a partir de certo momento, o século da hegemonia chinesa? Talvez. Convém lembrar que o ranking do Citigroup coloca a Índia à frente da China em 2050, enquanto ela fica em terceiro lugar em dois outros rankings (Goldman Sachs e HSBC). A melhor projeção para o Brasil – diga-se de passagem – colocaria nosso país em terceiro lugar, e a pior, em sétimo, a mesma posição de hoje, na hipótese mais pessimista. O ascenso da China e da Índia indica que o maior polo da economia mundial, em meados do século, estará concentrado na Ásia.
Diante de tudo isso, não se trata de dizer que vivemos sob o império do acaso e de um futuro aleatório. As transformações das estruturas socioeconômicas, assim como as culturais, de longa duração, ganharam velocidade, mas permanecem de pé, condicionando e limitando o arco das possibilidades. Convém lembrar, entretanto, que certos conceitos tidos como centrais na história das sociedades contemporâneas perderam muito de seu poder explicativo, como é o caso da luta de classes – chave da história em tempos relativamente recentes.
Estamos hoje longe da crença religiosa nas leis da história e abertos a admitir o imprevisível. Aos nossos olhos, o processo histórico continua a ser um processo, mas menos codificado, mais cheio de surpresas, o que o torna mais atraente.


Por
BORIS FAUSTO, Historiador e professor da USP.
O Estado de S. Paulo, 20/03/11


Lições que o Japão deve aprender com Chernobyl

Por 12 vezes ao mês - é o máximo que os médicos permitem - Serguei Krasikov toma um trem e segue por uma terra de ninguém para assumir seu trabalho em um prédio ao lado do reator número 4, conhecido como "sarcófago". Entre suas tarefas está a de extrair líquido radioativo acumulado dentro do reator incendiado. Isto ocorre quando chove. O sarcófago foi construído há 25 anos em uma situação de pânico, quando a radiação espalhou-se para áreas povoadas após a explosão do reator, que agora está cheio de rachaduras.
A água não pode tocar o que se encontra na parte mais profunda, dentro do reator, onde estão cerca de 200 toneladas de combustível e detritos nucleares fundidos, que queimaram no fundo e endureceram na forma de uma pata de elefante.
Essa massa permanece tão radioativa que os cientistas não podem se aproximar dela. No entanto, há anos, quando conseguiram instalar instrumentos de medição perto dali, obtiveram leituras de 10 mil rem por hora (medida do dano que a radiação causa a organismos vivos), 2 mil vezes mais o limite anual recomendado para trabalhadores da indústria nuclear.
Krasikov, um homem de ombros largos e olhos azuis, trabalha como baby-sitter desse monstro há oito anos. E ficará ali até se aposentar, quando deixará a tarefa para outro homem, que também ali ficará até se aposentar. Questionado por quanto tempo isto deve continuar, Krasikov resmungou: "Cem anos?", arriscou. "Talvez aí, então, já tenham inventado alguma coisa." A morte de um reator nuclear tem um começo, mas não tem fim.
Embora alguns elementos radioativos decomponham-se rapidamente, a meia-vida do césio é de 30 anos e do estrôncio, 29. Os cientistas estimam que levará de 10 a 13 meias-vidas até que a atividade econômica e a vida voltem à região. Isto significa que a área contaminada - determinada pelo Parlamento da Ucrânia como sendo de 38,8 quilômetros quadrados, o tamanho da Suíça - ficará afetada por mais de 300 anos.
Na semana passada, os trabalhadores tentaram freneticamente esfriar os seis reatores na usina de Fuskushima, a 225 quilômetros de Tóquio. Mas é preciso observar a Ucrânia para compreender o imenso tédio e exaustão de lidar com as consequências de uma fusão nuclear. É um problema que ultrapassa as dimensões da vida humana.
Na terça-feira, Volodymyr Udovychenko chegou ao Parlamento da Ucrânia usando camisa púrpura e gravata. Ele é prefeito de Slavutych, que abriga a maioria dos 3,4 mil trabalhadores que continuam empregados na Estação de Energia Atômica de Chernobyl. Muitos não recebem seus salários integrais desde janeiro e o prefeito pediu US$3,6 milhões para pagá-los. "Os líderes do país deram as costas para o problema, acham que Chernobyl não existe", disse. "Mas Chernobyl existe. E aquelas 200 toneladas também."
Visitar Chernobyl hoje é sentir a passagem do tempo. Em Pripyat, cidade-dormitório dos antigos trabalhadores da usina, a pouco mais de 1,5 quilômetro da central nuclear, onde 50 mil pessoas tiveram algumas poucas horas para abandonar suas casas, o papel de parede caiu sob seu próprio peso e a pintura desapareceu das paredes dos apartamentos. O gelo esconde o interior das casas. Numa rua residencial, onde os prédios de apartamentos no estilo soviético predominam, o silêncio é tanto que pode se ouvir uma folha roçar na outra.
O mundo selvagem gradativamente vai se inserindo aí. Anton Yukhimenko, que leva grupos para visitar a zona morta, disse que raposas e javalis selvagens já começaram a buscar abrigo na cidade abandonada e, certa vez, viu um lobo passando silenciosamente a seu lado. Não faz muito tempo, um dos maiores prédios da cidade começou a despencar, suas estruturas apodrecidas por 25 invernos e verões. "Esta é uma cidade que foi tomada pela vida selvagem", disse. "Acho que em 20 anos isto aqui será uma imensa floresta."
As pessoas não têm permissão para avançar além de um espaço de 30 quilômetros distante do reator número 4, mas um fotógrafo e eu conseguimos entrar junto com guias da Chernobylinterinform, uma divisão do Ministério de Emergência da Ucrânia. No posto de controle que leva para a zona de exclusão, há uma pequena estátua da Virgem Maria e uma placa indicando o volume de césio e estrôncio encontrados em cogumelos, peixes e animais de caça.
Em um raio de 9,6 quilômetros começa a zona de reassentamento obrigatório. Um local com árvores queimadas é a marca da chamada Floresta Vermelha, por causa da cor dos pinheiros mortos que foram derrubados em massa e queimados.
À medida que nos aproximamos da usina, o detector de radiação dos guias repentinamente registra 1,5 mil microrem - 50 vezes o normal. No centro de tudo isto está o sarcófago, suas paredes irregulares e corroídas pela ferrugem. Desde o início da década de 90, autoridades da Ucrânia vêm trabalhando em um plano para substituí-lo e, finalmente, deram início ao projeto chamado "Novo Confinamento Seguro", uma arca de aço de 91 metros onde o reator ficará encerrado e isolado pelos próximos 100 anos. O custo estimado é de US$ 1,4 bilhão, a ser pago por nações doadoras. O projeto, que deveria estar concluído em 2005, vem tendo problemas com atrasos e falta de dinheiro.
"Nesse intervalo, a neve do inverno transformou-se em chuva, cuja água penetra no reator, com consequências imprevisíveis", disse Stephan Robinson, físico nuclear que trabalha para a organização ambiental Green Cross Switzerland.
"No inverno, ela congela", disse o físico, que visitou o local na semana passada. "A água se expande e se rompe. Então, talvez, parte do que está dentro se quebre. Uma pequena nuvem pode se soltar por uma rachadura. Se existe água da chuva, isto significa que há uma maneira de ela entrar. E se há um meio de ela entrar, também existe um meio de ela sair."
No entanto, mesmo depois de a nova arca ser construída, Krasikov duvida que será possível pôr fim à longa vigília do reator número 3. "Ninguém sabe o que fazer com o que está dentro", disse. "Haverá trabalho bastante para meus filhos e netos."
À tarde, saindo do local, a luz do sol desaparecia em meio à floresta de pinheiros, um cenário de paz, exceto no caso dos triângulos amarelo e laranja colocados no solo da floresta, alertando para a radiação.
Os trabalhadores saem do local em meio a uma parede de contadores Geiger do tamanho de um indivíduo, cada um aguardando que a máquina faça as medidas e emita o sinal verde, para sair da zona de exclusão e seguir pela estrada destruída. Amanhã, eles retornarão à Estação de Energia Atômica de Chernobyl para um outro dia de trabalho.

Por
Ellen Barry, jornalista do The New Yok Times.
O Estado de S. Paulo, 22/03/11

17 de mar. de 2011

Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?

O nome não me era estranho. Eu já o vira de relance em algum jornal ou revista. Mas não me interessei. Aquele nome, para mim, não passava de um bolso vazio. Eu não tinha a menor idéia do que havia dentro dele. Sou seletivo em minhas leituras. Leio gastronomicamente. Diante de jornais e revistas eu me comporto da mesma forma como me comporto diante de uma mesa de bufê: provo, rejeito muito, escolho poucas coisas. Concordo com Zaratustra: “Mastigar e digerir tudo - essa é uma maneira suína.“

Aquele bolso devia estar cheio de coisas dignas de serem comidas – caso contrário não teria sido oferecido como banquete nas páginas amarelas da VEJA. Mas eu não comi. Aí um amigo me enviou via e-mail cópia de uma crônica do Arnaldo Jabor, a propósito do dito nome – crônica que eu li e gostei: sou amante de pimentas e jilós.

Senti-me parecido com o Mr. Gardner, do filme “Muito além do jardim“, com Peter Sellers. Mr. Gardner jamais lia jornais e revistas. Aproximei-me então da minha assessora e lhe perguntei, envergonhado, temeroso de que ela tivesse visto o dito filme, e me identificasse com o Mr. Gardner. “Natália, quem é Adriane Galisteu?“ Esse era o nome do bolso vazio. Ela deu uma risadinha e me explicou. À medida em que ela explicava, as coisas que eu havia lido começaram a fazer sentido, e eu me lembrei de uma estória que minha mãe me contava: uma princesinha linda que, quando falava, de sua boca saltavam rãs, sapos, minhocas, cobras e lagartos... Terminada a explicação, fiquei feliz por não ter lido. Lembrei-me de uma advertência de Schopenhauer: “No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos... Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.“ Existirá possibilidade de que a leitura dos jornais nos torne estúpidos?

O que está em jogo não é a dita senhora, que pode pensar o que lhe for possível pensar. O que está em jogo é o papel da imprensa. Qual a filosofia que a move ao selecionar comida como essa para ser servida ao povo?

A resposta é a tradicional: “A missão da imprensa é informar“. Pensa-se que, ao informar, a imprensa educa. Falso. Há milhares de coisas acontecendo e seria impossível informar tudo. É preciso escolher. As escolhas que a imprensa faz revelam o que ela pensa do gosto gastronômico dos seus leitores.

Jornais são refeições, bufês de notícias selecionadas segundo um gosto preciso. Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach estava certo ao afirmar que “somos o que comemos“, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo os jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer eles serão iguais àquilo que leram.

Faz tempo que parei de ler jornais. Leio, sim, movido pelo espírito da leitura dinâmica, apressadamente, deslizando meus olhos pelas manchetes para saber não o que está acontecendo, mas para ficar a par do menu de conversas estabelecido pelos jornais. Muita coisa importante e deliciosa acontece sem virar notícia, por não combinar com o gosto gastronômico dos leitores. Se não fizer isto ficarei excluído das rodas de conversa, por falta de informações. Parei de ler os jornais, não por não gostar de ler mas precisamente porque gosto de ler. As notícias dos jornais são incompatíveis com meus hábitos gastronômicos: leio bovinamente, vagarosamente, como quem pasta... ruminando. O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer. Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, freqüentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor se livra do trabalho de pensar.

Confesso que não sei o que fazer com a maioria das notícias dos jornais: entendo as palavras mas não entendo a notícia. Penso: se eu não entendo a notícia que leio, o que acontecerá com o “povão“? Outras notícias só fazem explicitar o que já se sabe. Detalhes, cada vez mais minuciosos, das tramóias políticas e econômicas de um Maluf, de um Jader, nada acrescentam ao já sabido. Esse gosto pela minúcia escabrosa se deriva da pornografia, que encontra seus prazeres na contemplação dos detalhes sórdidos, que são sempre os mesmos, como o comprovam as salas de “imagens eróticas“ da Internet. A dita reportagem sobre a tal senhora e as notícias sobre Jader e Maluf atendem às mesmas preferências gastronômicas. Será que as notícias são selecionadas para dar prazer aos gostos suinos da alma? Por outro lado, há os suplementos culturais que, para serem entendidos, é preciso ter doutoramento. Para o povão, o futebol...

Ao final de sua crônica o Arnaldo Jabor dá um grito: “Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade...“ Dizendo do meu jeito: os órgãos de imprensa têm de contribuir para a educação do povo. Mas educar não é informar. Educar é ensinar a pensar. Os jornais ensinam a pensar? Repito a pergunta: Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?




Por
Rubem Alves, escritor.
Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001.

15 de mar. de 2011

A incivilidade do brasileiro

A Revista VEJA (09 de março de 2011) publicou matéria, de autoria da jornalista Sandra Brasil, com o título: Os cabeças-sujas e seu mundinho. Excelente texto, que todos deveriam ler!

"Que tipo de gente joga lixo na rua, pela janela do carro e deixa a praia emporcalhada quando sai? Uma das respostas corretas é: um tipo que está se tornando mais raro. Sim. A atual geração de adultos foi criança em tempo em que jogar papel de bala ou a caixa vazia de biscoitos pela janela do carro quase nunca provoca uma bronca paterna.  (...)
O flagrante descaso com o bem público tem suas raízes fincadas na história, desde os tempos do Brasil colônia. No período escravocrata, a aristocracia saía a passear sempre com as mãos livres, escoltada por serviçais que não só carregavam seus pertences como limpavam a sujeira que ia atirando às calçadas. (...) Não raro, o rei dom João VI ,fazia suas necessidades no meio da rua, hábito também cultivado pelo filho, Pedro I, e ainda hoje presente. Foi com a instauração da República que o estado assumiu de forma sistemática o protagonismo no recolhimento do lixo, mas isso não significou, nem de longe, nenhuma mudança de mentalidade por parte dos brasileiros. Cuidar as sujeira continuou a ser algo visto como aquilo que cabe a terceiros – jamais a si mesmo.
Existe uma relação direta entre o nível de educação de um povo e a maneira como ele lida com o seu lixo. Não por acaso, o brasileiro está em situação pior que o cidadão do Primeiro Mundo quando se mede a montanha de lixo nas ruas deixada por cada um deles. (...)”

Por que será que o brasileiro (alguns) é incivilizado a ponto de jogar lixo nas ruas, estradas, calçadas que ele próprio trafega?

“A pessoa que joga lixo na rua, na calçada ou na praia se revela portadora de uma disfunção mental e social que a inabilita para o sucesso no atual estágio da civilização.”

Vamos mudar este triste quadro? Cabe a cada um de nós fazermos a diferença.



Fonte:
Excerto retirado da Revista VEJA, de 09/03/2011.

A lista em que falta o Brasil, Elio Gaspari

Na mesma semana em que a revista "Forbes" iluminou 30 bilionários brasileiros, o semanário inglês "THE" ("Times Higher Education") publicou sua lista das cem melhores universidades do mundo. Cadê o Brasil? Micou e não ficou nem sequer entre as 200. Em 2009, a USP fora a 92ª na área da saúde.
Cruzando a lista dos bilionários com a das universidades, a coisa fica feia. A China teve incluídas cinco instituições, a Índia e a Rússia têm uma cada uma. A América Latina, nenhuma.
Nem tudo é ruína. No pequeno mundo dos cursos de formação de executivos, uma avaliação do "Financial Times", deu a Pindorama o 8º lugar com a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, e o 13º com o Insper, de São Paulo. Ambas são instituições privadas.
Não é o caso de retomar a discussão sobre o futuro das universidades públicas, até porque, com poucas exceções, o estrago da privataria na rede particular garante que ela ficará fora de qualquer lista por mais 50 anos.
Os 30 bilionários brasileiros poderiam refletir em torno da história de um casal americano. Chamavam-se Leland e Jane. Tinham um só filho e, em 1884, ele morreu em Florença, aos 16 anos. O casal quis preservar sua memória. Podia ser com um museu, uma escola técnica ou uma universidade.
Procuraram o presidente de Harvard, a quem conheciam, e aprenderam que uma universidade lhes custaria US$ 5 milhões. Entreolharam-se e viram que tinham esse trocado, pois a fortuna do casal ia a US$ 50 milhões (US$ 1 bilhão em dinheiro de hoje). Voltaram para a Califórnia e criaram a Universidade Stanford, com o sobrenome da família. Ela é hoje a 5ª melhor do mundo, e a localidade de Palo Alto, cujas terras eram de Leland, é o pulmão do progresso tecnológico americano.
Pouca gente se lembra do senador Leland Stanford como um dos "barões ladrões" da Califórnia, nem da estrada de ferro transcontinental que ajudou a abrir, como uma monumental rapinagem, pois ela mudou a geografia dos Estados Unidos.
Pelas contas da Forbes, os 30 bilionários brasileiros têm um ervanário de US$ 130,5 bilhões.

Fonte:
Folha de São Paulo, 13/03/2011.


Infelizmente, não se tem no Brasil identidade de país. Exemplo como o Deputado Federal, Tiririca, que até pouco tempo foi tido como analfabeto (precisou provar para o Juiz Eleitoral que sabia ler e escrever), hoje é da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Como assim?

O que é, afinal, o Brasil?


10 de mar. de 2011

Eu ou mim?

Era pra mim ler?
Não!!
Mim não lê.
Quem lê sou eu!

Outro erro na boca dos brasileiros no dia-a-dia!

Há quem diga que mim é índio que diz! Soa mal! Entretanto está aí na rua, nas conversas, na televisão, no rádio, na política... mais uma vez é mais um fenômeno que não tem sexo, raça, religião, etc.

Pois bem, se não houver verbo à frente, deve-se usar mim ou ti. E se houver verbo exigindo sujeito, eu ou tu.

Isto quer dizer:

Ela conseguiu uma autorização para eu entrar.
Apesar de o pronome pessoal vir precedido de uma preposição, não é regido por ela. Desempenha a função de sujeito do verbo entrar e, por isso, deve ser usado o pronome do caso reto.

Já neste exemplo:

Para mim, viajar de avião é um suplício.
Aqui, a vírgula depois do pronome indica que ele não é o sujeito de viajar, tanto que a frase pode ser alterada sem prejuízo do seu significado: Viajar de avião é um suplício para mim.

Veja agora:

Entre mim e você não existe diálogo e as coisas vão muito mal.
Ou ainda: Entre você e mim não existe diálogo e as coisas vão muito mal.
Tanto faz! Mas a forma correta e culta de se escrever e falar é esta!

Parece que tudo isso é feio, esquisito e errado, mas não o é! É a norma culta que está aí para ser praticada!

Vamos tentar?