29 de abr. de 2011

O Brasil envelhece, de acordo com o Censo 2010

O resultado do Censo 2010, divulgado nesta sexta-feira, 29, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), comprova que o Brasil é um País que caminha rapidamente para o envelhecimento populacional. Em relação a 2000, diminuiu a representatividade dos grupos etários para todas as faixas com idade até 25 anos, ao passo que os demais grupos etários aumentaram suas participações na última década.

O grupo de crianças de zero a quatro anos do sexo masculino, por exemplo, representava 5,7% da população total em 1991, enquanto o feminino representava 5,5%. Em 2000, estes porcentuais caíram para 4,9% e 4,7%, e continuaram em declínio em 2010, chegando a 3,7% e 3,6%.


Simultaneamente, o alargamento do topo da pirâmide etária pode ser observado pelo crescimento da participação relativa da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010.


Os grupos etários de menores de 20 anos já apresentam uma diminuição absoluta no seu contingente. O crescimento absoluto da população do Brasil nestes últimos dez anos se deu principalmente em função do crescimento da população adulta, com destaque também para o aumento da participação da população idosa.


A região Norte, apesar do contínuo envelhecimento observado nas duas últimas décadas, ainda apresenta uma estrutura bastante jovem, devido aos altos níveis de fecundidade no passado. Nessa região, a população de crianças menores de 5 anos, que era de 14,3% em 1991, caiu para 12,7% em 2000, chegando a 9,8% em 2010. Já a proporção de idosos de 65 anos ou mais passou de 3,0% em 1991 e 3,6% em 2000 para 4,6% em 2010.


A região Nordeste ainda tem, igualmente, características de uma população jovem. As crianças menores de 5 anos em 1991 correspondiam a 12,8% da população; em 2000 esse valor caiu para 10,6%, chegando a 8,0% em 2010. Já a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010.


Sudeste e Sul apresentam evolução semelhante da estrutura etária, mantendo-se como as duas regiões mais envelhecidas do País. As duas tinham em 2010 8,1% da população formada por idosos com 65 anos ou mais, enquanto a proporção de crianças menores de 5 anos era, respectivamente, de 6,5% e 6,4%.


A região Centro-Oeste apresenta uma estrutura etária e uma evolução semelhantes às do conjunto da população do Brasil. O porcentual de crianças menores de 5 anos em 2010 chegou a 7,6%, valor que era de 11,5% em 1991 e 9,8% em 2000. A população de idosos teve um crescimento, passando de 3,3% em 1991, para 4,3% em 2000 e 5,8% em 2010.


Fonte:

O Estado de S. Paulo (29/04/11)

28 de abr. de 2011

Energias alternativas

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/energias_alternativas/contexto4.html

Crônica: "Não existíamos e não sabíamos"

Na revista piauí deste mês, há um artigo seminal de Pérsio Arida, sobre sua participação juvenil na guerrilha urbana. Lá está a análise rara de um prisioneiro torturado sobre a onda revolucionária que pegou nossa geração; lá estão os humanos tremores, a dúvida, o medo, todo o irresistível delírio ideológico e psicológico que insuflou uma geração para sofrimentos e mortes depois de 68. A luta armada foi a consequência da fé que tínhamos antes de 64, influenciados pela guerra fria, Cuba liberada, Vietnã.


A importância que restou de tudo, como Pérsio aponta, foi justamente a "via-crúcis" que tivemos de viver e que, por vias tortas, acabou nos levando à democracia em 85. Historicamente, foi bom.
 
 
O golpe militar de 64 aconteceu porque nós não existíamos. Éramos uma ilusão. A esquerda era uma ilusão no Brasil. (Já imagino as "cerdas bravas do javali" se eriçando em alguns cangotes). Mas, existia o quê? Existia uma revolução verbal. A ideologia "revolucionária" era um ensopadinho feito de JK, Marx, Getúlio e sonho. Existia uma ideologia que nos dava a sensação de que o "povo do Brasil marchava conosco", um "wishful thinking" de que éramos o "sal da terra". Havia a crendice de que nossos inimigos estavam todos "fora" de nós, fora do País e das estruturas políticas arcaicas que nos corroem há 400 anos. Existia um "bacalhau português" em nosso discurso, um forte ranço ibérico em nosso aparente "rationale" franco-alemão: o amor ao abstrato, a literatura salvacionista, a busca de um "Uno" totalizante. A população nem sabia que existíamos. Não havia base material, econômica ou armada, "condições objetivas" para qualquer revolução. Por trás de nossas utopias, o Brasil escravista e patriarcal dormia a sono solto, intocado. Éramos uma esquerda imaginária, delegando ao Estado a tarefa de fazer uma revolução contra o Estado. Até nas revoluções precisamos do Governo.
 
 
Por baixo dos sonhos juvenis, havia apenas o sindicalismo de pelegos e dependentes do presidente, que deu a grande festa de 13 de março (o comício da Central, com tochas da Petrobrás e clima soviético). Eu estava lá, olhando para Thereza Goulart, linda de vestido azul e coque anos 60 e vendo, depois, com calafrio na espinha, as velas acesas em protesto contra nós em todas as janelas da classe média "reacionária", do Flamengo até Ipanema. Essa era a verdadeira "sociedade civil" que acordava. Hoje, acho que o único cara que sacava a zorra toda era o próprio Jango, mais brasileiro, mais sábio, entre os gritos de Darcy Ribeiro falando do "Brasil, nossa Roma tropical!". Havia uma espécie de "substituição de importações dentro da alma": a crença de que éramos "especiais" e de que podíamos prescindir do mundo real, fazendo uma mutação por vontade mágica. Só analisávamos a realidade "objetiva", quando tínhamos de estar incluídos nela, subjetivamente. Em seu artigo, Pérsio se inclui.
 
 
Mas existia o que, então?
 
 
Existiam os outros. Os "outros" surgiram do nada. O óbvio de nossa cultura pipocou do "nada" em 64. Fantasmas seculares reviveram. Apareceu uma classe média apavorada e burra, que sempre esteve ali. Surgiu um Exército autoritário e submisso às exigências externas. Ficamos conhecendo a ignorância do povo (que idealizávamos), descobrimos que a resistência reacionária de minhas tias era igual à dos usineiros e banqueiros. Descobrimos a violência repressiva de uma falsa "cordialidade". Descobrimos o óbvio do mundo.
 
 
Eu estava dentro da UNE pegando fogo no 1.º de abril e quase morri queimado; mas, senti nesse dia que a vida real começava. A sensação não foi de derrota; foi a de acordar de um sonho para um pesadelo. Um pesadelo feito de milicos grossos, burrice popular e pragmatismo de gringos do "mercado". (Foi inesquecível o surgimento de Castelo Branco, feio como um ET de boné verde, na capa do O Cruzeiro).
 
 
Em 64, começara o calvário que nos levou a uma possível maturidade. Despertamos para a bruta mão do "money market", que precisava nos emprestar dinheiro, para que o Estado pós-getulista-verde-oliva avalizasse a instalação das multinacionais aqui. Ou vocês acham que iam nos emprestar US$ 100 bilhões para o Jango fazer a reforma agrária com o Francisco Julião? Aprisionaram-nos para contrairmos a dívida como, 20 anos depois, nos libertaram para pagá-la. Depois de 64 e 68, vimos que a esquerda tinha "princípios" e "fins", mas não tinha "meios".
 
 
Nossos paranoicos achavam (e muitos continuam achando) que somos vítimas de uma trama de Washington.
 
 
Claro que a CIA armou coisas com direitistas daqui, mas foram apenas os parteiros do desejo material da Produção.
 
 
O tempo da ditadura foi um show de materialismo histórico. Mas ibérico não gosta de ver essas coisas. E, logo, tapamos os olhos e nos consideramos as "vítimas", lutando pela "liberdade" formal. E não víamos que a barra-pesada estava entranhada em nossas instituições políticas, assim como não havia ideal democrático nenhum em nossos guerrilheiros. Nessa época, poderíamos ter descoberto que um país sem sociedade organizada morre na praia. E deveríamos ter descoberto que não adianta nada analisar os "erros" de nossa esquerda "revolucionária" como se fossem erros episódicos, veniais. A esquerda no Brasil tem de ser repensada "ab ovo", pois é impossível trancar a complexidade de nossa formação nacional num "pensamento único". Por isso, é desesperante ver gente ainda querendo restaurar ilusões perdidas.
 
 
O tempo não para e as forças produtivas do mundo continuarão agindo sobre nossa resistência colonial.
 
 
A mutação modernizadora, digital, do mundo nos obriga à democracia. Quando entenderemos que a verdadeira revolução brasileira tem de ser endógena, democrática e que só um choque de capitalismo e de empreendedores livres pode arrasar o "bunker" corrupto, a casamata secular do Estado patrimonialista? Pérsio não morreu e, 20 anos depois, ajudou a acabar com a inflação. Valeu...



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Arnaldo Jabor - O Estado de S. Paulo (26/04/11)


Para que serve a monarquia?

Os militantes da república estão preparados. Eles utilizarão a pompa de sexta-feira para tentar abater a monarquia britânica. Seu ardor é grande, mas seu número, pequeno. Alguns milhares. Suas finanças são ainda menores. Um pouco de desalento tomou conta deles quando souberam que o casamento de William Arthur Philip Louis of Wales, futuro rei, e Catherine Elizabeth Middleton será assistido por 2 bilhões de pessoas e umedecerá os olhos de senhoritas de Cingapura a Punta del Este.


No entanto, muitos britânicos consideram a monarquia obsoleta. Em 1800, o filósofo Jeremy Bentham a descrevia como "um absurdo montado em pernas de pau". Mais recentemente, Lorde Beaverbrook declarou: "A monarquia ruirá num bocejo de tédio." Má profecia. A monarquia não morreu. E não é o tédio que a ameaça, mas a agitação, por vezes o escândalo. Esses desconfortos deram bons resultados: a monarquia britânica evoluiu. Muito? Não. Um pouco.


No início de seu reinado, há 60 anos, Elizabeth II se recusava a receber casais divorciados em seus aposentos em Ascot. Depois, três de seus quatro filhos se divorciaram. Seu filho querido, Andrew, duque de York, tem amigos detestáveis - como um miliardário americano condenado por pedofilia -, sua neta Zara Phillips casou-se com um jogador de rúgbi de nariz quebrado. Embora o Buckingham tenha se recusado a convidar Tony Blair e Gordon Brown, em compensação, estarão presentes o cantor pop Elton John e seu companheiro, David Furnish.


Alguns republicanos são ainda mais cruéis. O canadense de origem britânica Grant Stoddard, que gostaria que o Canadá deixasse a Comunidade Britânica, fez uma releitura da história dos reis da Inglaterra. E ela não é nada encorajadora: ela tem um simpatizante nazista (Eduardo VII) e, mais distante no tempo, traidores (Carlos I), assassinos (Ricardo III), doentes mentais (George III) e um executor de mulheres (Henrique VIII).


"Mas e os outros reis?", nos questiona Stoddard. Ele mesmo responde: "Imbecis." Na verdade, não há nenhuma revelação. Shakespeare, seus reis loucos e rainhas assassinas nos haviam advertido. Stoddard acrescenta uma colher de veneno ao desenhar o futuro rei Carlos III (Charles). "Rabugento, com um rosto velho de traque misantropo, que fala com as plantas por meio das duas folhas de repolho de suas orelhas" - retrato, a meu ver, exagerado.


A questão é a seguinte. Por que ato de prestidigitação essa monarquia, que não serve para absolutamente nada, continua a fascinar? Lembremos que o rei tem três funções apenas: ele outorga honrarias, nomeia o primeiro-ministro que o Parlamento lhe diz para nomear e dissolve, nas mesmas condições, o Parlamento.


A essa pergunta, podemos dar respostas racionais. "Esse sistema assegura a permanência de uma classe dominante competente, unida pelos laços de família, de geração em geração", disse Edmund Burke, no século 17.


Função da monarquia. Eu proporia que a monarquia, em um planeta e em sociedades condenados ao definhamento e à decrepitude, tem a missão de introduzir em nossos horizontes borrascosos um elemento indestrutível, insensível à usura e às novidades, protegido da malevolência e dos caprichos da história e da política.


Nesse sentido, a monarquia assumiria a mesma função que preenchem, com mais modéstia, a religião, as feiras de antiguidades e os museus, as perucas dos magistrados britânicos, a tiara e os sapatos vermelhos do papa, as receitas de cozinha, os costumes, as lendas familiares que se transmitem dos avós para os netos, os trajes cor de escaravelho verde e dourado usados pelos membros da Academia Francesa, os rituais dos professores universitários, que obrigam seus alunos a respeitar suas dissertações, os costumes dos povos tupi-guarani, em suma, várias condutas encantadoras, anódinas, quase invisíveis, que permitem ao homem carregado pelas vagas borbulhantes do tempo, o momento de imaginar que ele permanece à margem da torrente, ao abrigo de seus furores.


Esses deveres, a monarquia britânica preenche com um talento e um brilho inigualáveis. Acrescenta-se a isso uma virtude suplementar: os rituais dessa realeza, forjados desde a Idade Média, atingem a perfeição. É isso que lhe permite introduzir uma outra dimensão, a do "conto de fadas".


A admiração das multidões por essas cerimônias a meio caminho do sublime e do grotesco pode também ser explicado por essa "magia". Assim como os parques temáticos da Disney, mas com mais "classe", a monarquia britânica nos oferece um "conto de fadas".


Milagre. Este ano, pela primeira vez, será uma plebeia, uma burguesa muito rica, por sinal, que misturará seu sangue ao "sangue azul" aristocrático da família real. Eis a missão histórica de Kate e a razão de nossa embriaguez. Cinderela sobe na carruagem do príncipe encantado e, mesmo depois da meia-noite, continuará princesa.


Após as 12 badaladas da meia-noite, ela não voltará a seus trajes de "camponesa" ou de "burguesa". Continuará princesa e, um dia, será rainha. Esse é o milagre.



Fonte:

Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo (28/04/11)

27 de abr. de 2011

O pesadelo de Guantánamo

Os mais de 700 documentos militares sigilosos sobre os suspeitos de terrorismo presos na base americana de Guantánamo, em Cuba, recém-divulgados pelo site WikiLeaks e o jornal The New York Times, formam o quarto conjunto de papéis confidenciais do governo dos EUA trazidos a público desde o ano passado. A nova batelada deixa claro que à incapacidade da maior potência global de conservar os seus segredos se soma a incompetência para distinguir quem é quem entre os presumíveis agentes do seu inimigo número um - a rede terrorista Al-Qaeda, de Osama bin Laden.


Os seus ataques ao país em 11 de setembro de 2001 estão na origem da transformação de Guantánamo numa penitenciária sui generis, que afronta os direitos consagrados na pátria das liberdades e nem assim constitui um instrumento eficaz de combate à ameaça fundamentalista homicida. Já se sabia da rotina de violências, humilhações e desproteção legal que se abatia sobre os encarcerados no enclave americano em Cuba. Sabia-se também que não poucos deles, depois da captura, tinham sido enviados clandestinamente a outros países para ser torturados - e dali para Guantánamo.
 
 
Mas não se sabia do surrealismo que imperava nessa que se tornou uma "duradoura instituição americana", como diz o New York Times, em alusão à desistência do presidente Barack Obama de fechar o que Washington chama delicadamente de "centro de detenção", uma de suas mais fortes promessas de campanha. Os papéis vazados são quase todos "relatórios de avaliação", escritos entre fevereiro de 2002 e janeiro de 2009, ainda no governo Bush, portanto. São as fichas de 759 dos 779 detentos que passaram pelo lugar ao longo do período, entre eles um jovem de 14 anos e um ancião senil de 89.
 
 
Em relação a pelo menos 150 "combatentes inimigos", nem os seus próprios guardiães conseguiram estabelecer vínculo algum com a Al-Qaeda ou o Taleban. Foram parar em Guantánamo pelas razões mais implausíveis, como terem sido confundidos com homônimos ou acusados de atos terroristas pelos verdadeiros perpetradores, sem que a versão fosse investigada. Passaram anos, porém, até que fossem devolvidos aos seus países de origem. Um cinegrafista sudanês que trabalhava para a TV Al Jazeera passou 6 anos respondendo a perguntas sobre programas de treinamento, equipamentos e coberturas jornalísticas da emissora. Foi solto em 2008 (e voltou ao emprego).
 
 
Continuam na base 172 suspeitos. A maioria é considerada de "alto risco". No entanto, conforme os documentos expostos, assim também eram classificados cerca de 200 dos 600 já libertados. Culpado ou inocente, nenhum poderia ser levado a um tribunal penal pela fragilidade das evidências reunidas contra eles e as circunstâncias de suas confissões. Mesmo o mais conhecido de todos, Khalid Shaikh Mohammed, operador-chefe confesso do 11 de Setembro, será julgado por uma corte militar; o governo desistiu de submetê-lo a um tribunal de Manhattan, onde se erguiam as torres gêmeas contra as quais mandou que se lançassem os aviões tomados pelos bandos suicidas naquela terrível manhã.
 
 
Muito do que consta nos "relatórios de avaliação" dos prisioneiros é o que deles disse um punhado de outros. Além disso, membros dos serviços de inteligência de uma dezena de países - todos árabes ou muçulmanos, salvo a Rússia e a China - estiveram em Guantánamo para interrogar os seus nacionais. Verificou-se depois que o que eles lhes diziam não conferia necessariamente com o que haviam dito aos americanos. O que é verossímil é o retrato degradante do cotidiano da base, a tensão irrespirável no ar, as juras de desforra e os revides. Dificilmente isso terá mudado com o advento do governo Obama.
 
 
Não está claro o que ele possa fazer, sob os ataques da virulenta oposição republicana, para se livrar do pesadelo herdado - que continua a ferir, como nenhuma outra questão singular, a imagem dos Estados Unidos. E tudo para quê? "Quanto mais se sabe de Guantánamo, pior parece como meio de enfrentar o terrorismo", resume o diário londrino The Guardian, que também publicou os documentos. "É um símbolo de vingança, não um sistema de justiça."


Fonte:

O Estado de S. Paulo, de 27/04/11


Ensino para o século 19

Por

Folha Online, 27/04/2011 - São Paulo SP
Luli Radfahrer


Sou escritor e consultor. Professor, só duas vezes por semana. Por isso posso dar-me ao luxo de ter uma agenda flexível: trabalho em casa, fujo do trânsito, entro em contato com a maioria das pessoas com quem convivo via telefone e internet. Nada me impede de largar tudo e ir para a praia no exato momento em que você lê este artigo em sua mesa de trabalho. Só não o faço porque, como todo mundo, aceito mais demandas do que seria humano atender. Com a digitalização dos processos, cada vez mais profissionais têm regimes de trabalho como o meu, com reuniões em cafés e um código de vestimenta sem considerações mais profundas do que se uma peça de roupa está limpa, inteira e razoavelmente desamassada. A vida tecnológica tem, muitas vezes, a aparência desleixada da de um estudante universitário. 

A maioria das escolas, no entanto, ainda parece qualificar o profissional do século 19. As que frequentei, por exemplo, me prepararam para um mundo muito diferente. Comparadas com a rotina que levo hoje, eram quase paramilitares. Se diziam "progressivas", mas tinham códigos de vestimenta, horários rígidos, filas, contagens e chamadas. Avaliações aleatórias, sem direito a consulta, eram a norma. Como também o eram os trabalhos individuais, o preenchimento de relatórios e formulários para a realização de qualquer tipo de atividade, as punições morais na forma de notas e as restrições de circulação. Mas o pior eram o que chamavam de "aulas": aquelas longas sessões em que informações desconexas eram impostas por autocratas entediados a uma audiência trancafiada e imóvel, sem poder de voto, argumentação ou debate, que tinha que decorar nomes de organelas, fórmulas de mecânica, sistemas políticos gregos e reações de oxidação, mesmo que mostrasse vocação para o jornalismo ou eletrônica.

Não é preciso dizer que telefones celulares, YouTube e mídias sociais, se existissem na época, certamente seriam proibidos, sob a justificativa de atrapalharem a "didática". O sistema, enfim, era mais claro em suas restrições --de movimento, de expressão e de atividade-- do que em suas propostas. Se é que existia alguma proposta além de passar em um tal de exame vestibular para profissões hoje extintas. As escolas de hoje são, é claro, diferentes. Mas não muito. Não sou pedagogo, mas me parece inadequado chamar de "educação" um sistema que desperdiça vários anos em um curso preparatório para uma única prova. E que, mesmo depois do obstáculo ser transposto, se perpetua pelos anos de faculdade, em nome da "adequação para o mercado de trabalho". Que trabalho ainda demanda um comportamento de decorebas e isolamento?

É duro admitir, mas a maioria das crianças e adultos ainda vêm sendo adestrados segundo padrões do século 19. Qualquer profissional adaptado ao mercado contemporâneo sabe que o aprendizado é um processo contínuo, infinito e prazeroso. Ou pelo menos deveria sê-lo. Não surpreende que a maioria dos que se sentem adaptados sejam autodidatas. Ou que não tenham aprendido quase nada do que praticam em sala de aula. Tampouco surpreende ouvir de profissionais bem-sucedidos que a faculdade mais os atrapalhou do que ajudou. Ou de tantos estudantes comentarem abertamente que seu maior objetivo é sair da escola rápido para começar a trabalhar logo de uma vez. Mesmo que depois voltem a ela em busca de novos certificados e mestrados, como se o conhecimento fosse finito e pudesse ser encapsulado, enclausurado... e esquecido. É preciso rever a forma com que é ensinado, avaliado e cobrado o que se mostra nas escolas. Qualquer nerd ou gamer sabe muito bem que, quando o desafio é fascinante e socialmente reconhecido, os professores são reverenciados e os certificados, quase acessórios.
 

26 de abr. de 2011

Manual de leitura para o vestibulando

 
Sérgio Murilo Machado, professor de literatura e língua portuguesa do Colégio Catarinense, fez uma espécie de manual de leitura para o vestibulando. Leia atentamente e aproveite.

O QUE LER
 
Tudo o que puder. Não siga apenas uma linha. Leia romance, contos, reportagens e até gibi.

O QUE PRIORIZAR
 
Comece lendo as leituras obrigatórias do vestibular, principalmente se não tem o hábito da leitura. Lembre-se: o tempo é curto.

A ESTRATÉGIA PARA LEITURA

Quanto à leitura obrigatória para o vestibular, comece pelos mais fáceis. Quem vai fazer o concurso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exemplo, pode iniciar pelo 13 Cascaes. É um livro de contos, que fala sobre a cultura mané. Da até para ler um conto por dia.

COMO LER
 
O ideal é ler, marcar as passagens importantes e fazer um fichamento. Então, no fim do ano, é só ler os resumos e os fichamentos.

ALÉM DA LITERATURA

Leia jornais e revistas, pelo menos uma publicação por semana. Os jornais de domingo, por exemplo, fazem um resumo da semana e já falam sobre o que vai acontecer nos próximos dias.

O QUE É IMPORTANTE LER NOS JORNAIS

Prefira os assuntos que te aguçam a curiosidade. Mas não deixe de fora política, economia e atualidades. Os vestibulares cobram cada vez mais atualidades e questões interdisciplinares.

PARA LEMBRAR

A catástrofe no Japão, junto com todas que estão acontecendo. A questão ambiental está muito forte. As mudanças do mundo Árabe e as crises financeiras também tem que serem analisadas.
 
 
Fonte:
 

25 de abr. de 2011

Emigrar para competir

Em busca de competitividade, indústrias brasileiras estão fechando unidades no País e transferindo suas atividades para o exterior, por meio de investimentos em novas fábricas ou aquisição de empresas já em operação. Em parte desses casos, as indústrias não procuram mercados próximos de seus novos centros de produção, pois continuam a atender preferencialmente o mercado brasileiro. Mas, para competir internamente com os produtos importados, preferem produzir no exterior.


Escassez e custo muito alto de mão de obra, tributação excessiva, juros elevados, concorrência desleal, infraestrutura precária e cara e valorização do real estão entre os principais fatores apontados pelos dirigentes dessas empresas para reduzir ou encerrar as atividades no País e desenvolvê-las no exterior.
 
O caso relatado pelo Estado (18/04), da maior fabricante de calçados do País, a Vulcabrás, que decidiu comprar uma fábrica na Índia para ali produzir a parte do tênis de sua marca que mais emprega mão de obra, é o mais recente numa lista de empresas brasileiras que decidiram produzir no exterior. A empresa adquirida emprega mil trabalhadores e o plano da Vulcabrás é expandir o quadro de pessoal para 5 mil pessoas em 18 meses. Como a indústria trabalha também com empresas terceirizadas, é possível que, nesse período, sejam gerados até 8 mil empregos. Na unidade indiana, a Vulcabrás produzirá a parte superior do tênis, feita de tecido, couro e material sintético. Na fabricação de um tênis, essa é a parte que mais emprega mão de obra, cujo custo, para a fabricante, será bem menor na Índia, compensando o custo adicional do transporte desse componente até o Brasil, onde o produto será completado.
 
O governo brasileiro já adotou uma tarifa antidumping, de US$ 13,85 por par, contra o calçado proveniente da China, o maior concorrente do produto nacional, mas a medida não limitou a entrada do similar chinês no mercado doméstico, pois os exportadores daquele país adotaram a prática conhecida como "triangulação", de embarcar seus artigos em outros países - como Malásia, Vietnã e até Paraguai -, como se nesses tivessem sido fabricados. Essa também é uma prática condenada pelas regras internacionais, mas o processo de punição é demorado, daí a opção de indústrias brasileiras pela produção no exterior.
 
A balança comercial brasileira continua a registrar um superávit expressivo no comércio de bens tradicionais da indústria. Nos primeiros três meses do ano, esse segmento da indústria registrou superávit de US$ 8,5 bilhões. Mas o resultado deveu-se basicamente a duas categorias de produtos - alimentos, por causa do alto preço no mercado internacional e da alta eficiência da agroindústria brasileira, e produtos de madeira, papel e celulose. Nas categorias em que a competitividade é fortemente afetada pela mão de obra, como têxteis e calçados, pela primeira vez em mais de duas décadas a balança comercial no primeiro trimestre do ano registrou déficit, que alcançou US$ 342 milhões. Esse dado também explica a decisão das empresas do setor de produzir no exterior.
 
Uma empresa brasileira do ramo de cosméticos decidiu fazer parcerias com empresas do México, Colômbia e Argentina, como primeiro passo para estabelecer-se nesses países. O objetivo inicial é abastecer o mercado local, mas a empresa pode transformar essas unidades no exterior em base para sua expansão para outros países da América Latina. Outra empresa do setor de calçados, que chegou a operar 21 unidades industriais no Rio Grande do Sul, para produzir 4,5 milhões de pares por ano, com o trabalho de 3 mil pessoas, decidiu mudar-se para a Nicarágua, de onde continuará a exportar para os Estados Unidos, seu principal mercado. A empresa brasileira líder da América Latina na fabricação de índigo e brim anunciou recentemente o acordo com um grupo da Argentina para lá iniciar a produção de denim.
 
O fenômeno pode ser duradouro. Dirigentes das empresas que decidiram transferir a produção para o exterior consideram remota a reconquista pelo Brasil da produtividade que vem perdendo nos setores intensivos em mão de obra.


Fonte:

Opinião
O Estado de S. Paulo, de 25/04/11

O bônus demográfico do Brasil

Dadas as deficiências estruturais do Brasil, há quem considere discutível a opinião de James O"Neill, criador da sigla Bric, de que já nos desenvolvemos a ponto de não mais sermos classificados como "economia emergente". Uma coisa, porém, é certa: a nossa taxa de natalidade já é muito semelhante à dos países industrializados. Segundo a OCDE, a taxa de fertilidade da mulher brasileira é hoje de 1,8 filho, em média, índice bastante próximo ao dos países ricos (1,7 filho por mulher). Se o País souber aproveitá-lo, esse bônus demográfico deve permitir que a renda per capita do brasileiro aumente 2,5% ao ano entre 2010 e 2050, segundo as projeções dos especialistas. Na metade do século, haverá o problema de envelhecimento da maior parte da população, mas ao longo desta e das próximas décadas, a qualidade de vida dos cidadãos tende a melhorar e a sua capacidade produtiva, a aumentar, assim como seu nível de poupança, desde que o País seja capaz de tirar o atraso em áreas como educação e saúde.


É importante notar que o crescimento demográfico no Brasil diminuiu sem medidas coercitivas do governo, como as em vigor na China, onde a taxa de fertilidade caiu para 1,5 filho por mulher em razão de uma legislação draconiana, inaceitável nos países democráticos. Sem dúvida, a alta taxa de natalidade, característica dos países mais pobres, agrava os problemas sociais e, sob esse ponto de vista, o Brasil avançou muito em relação ao período de 1950/80, quando a população acusava uma taxa de crescimento de 2,8% por ano, em média. O mesmo não se pode dizer da Índia, cuja taxa de fecundidade ainda é de 2,7 filhos por mulher. No grupo dos Bric, o Brasil também está em situação mais favorável do que a Rússia, que registra uma taxa de natalidade negativa de 0,6, ou seja, muito abaixo do nível de reposição, tornando mais graves os problemas de envelhecimento da população.
 
Um conjunto de fatores contribuiu para a transição demográfica por que passa o Brasil. Com a crescente urbanização do País e a expansão da indústria e da área de serviços, um número cada vez maior de mulheres passou a trabalhar fora de casa, sendo incluídas na População Economicamente Ativa (PEA). Segundo estudo do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do IBGE, a taxa de atividade total das mulheres com mais de 10 anos subiu de 13,6% da PEA em 1950 para 26,9% em 1980 e 44,1% em 2000, estando atualmente em mais de 60%, com tendência a crescer. As contingências do trabalho e da vida urbana, bem como os novos métodos anticoncepcionais, contribuíram decisivamente para o declínio da taxa de fecundidade.
 
Ao lado disso, a taxa de dependência demográfica vem despencando. Em 1950-1980, cada 100 pessoas em idade produtiva tinham, em média, 82 dependentes. A projeção para 2010/2030 é de que o número de dependentes deve cair para 42 pessoas inativas (crianças e idosos) para cada 100 em atividade. Somente a partir de 2025, segundo o estudo, a taxa de dependência voltará a se elevar, diminuindo a proporção dos que trabalham em relação aos que já se aposentaram.
 
São nítidas as vantagens desse processo, que terá um impacto macroeconômico ainda mais pronunciado nas próximas quatro décadas, pois significa "maior capacidade de poupança, condição indispensável para a elevação dos investimentos necessários ao desenvolvimento", diz Alves.

Um trabalho dos professores Cássio Turra e Bernardo Queiroz, da UFMG, mencionado em estudo do Banco Mundial sobre o assunto, considera que o "primeiro dividendo" demográfico foi usufruído no período 1970/2010, tendo contribuído com 30% do crescimento econômico do País, embora tenha ficado aquém do que seria ideal. O "segundo dividendo" demográfico, que seria colhido entre 2020 e 2050, possibilitaria um acúmulo de capital associado à forma de trabalho mais madura, aumentando a produtividade do trabalho (Estado, 7/4).

Quer dizer, o Brasil tem aproveitado o bônus demográfico, mas menos do que poderia. Como o Banco Mundial sugere, o País terá de promover mudanças no mercado de trabalho e na Previdência Social para estimular sua poupança para investimentos.


Fonte:

Opinião
O Estado de S. Paulo, de 24/04/11


20 de abr. de 2011

Grande SP agora mais perde que ganha migrantes

A diminuição do fluxo de migrantes para São Paulo na última década foi decisiva para que o Estado registrasse o menor crescimento populacional dos últimos 70 anos. Entre 2000 e o ano passado, São Paulo recebeu 47.946 migrantes por ano, valor que corresponde a um terço do total registrado na década anterior. No auge da migração em São Paulo, entre os anos 1970 e 1980, o fluxo anual de migrantes era 6,4 vezes maior do que o atual.


Pela primeira vez, o aumento da população no Estado, que ficou em 1,1% na década, foi mais baixo do que a média nacional (1,2%). A redução no saldo vegetativo anual (diferença entre nascimentos e mortes) também ajudou a diminuir o ritmo de aumento populacional. O crescimento vegetativo da década foi de 379 mil. Na passada, era de 467 mil.

Como resultado, a população de São Paulo passou de 36,974 milhões em 2000 para 41,252 milhões de habitantes em 2010. Os dados são de pesquisa divulgada ontem pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com base nos resultados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O dado que mais chama a atenção dos pesquisadores aponta para a queda brusca do saldo migratório dos 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Considerada a região do Estado mais atraente na década de 1990 a 2000, recebendo 24.399 pessoas por ano, passou a perder anualmente 30.362 migrantes. "Uma das hipóteses para explicar esse movimento é que outras cidades do Centro-Oeste, Nordeste e Norte ficaram mais atraentes, porque têm registrado crescimentos econômicos acima do paulista", diz a pesquisadora Sônia Perillo, analista de projetos da Fundação Seade.

Apesar de registrar uma queda anual na migração de 32.814 migrantes, a cidade de São Paulo teve redução menor do que a verificada nos últimos 20 anos. Entre 1990 e 2000, o saldo negativo da migração era da ordem de 50,8 mil anual. "A diferença é que os demais municípios da Região Metropolitana compensavam essa queda e recebiam parte da população. Agora, as outras cidades da região pararam de crescer", explica Sônia.

Em números absolutos, fora a capital, Osasco registrou as principais perdas populacionais para outras cidades. Entre 2000 e 2010, 6.056 pessoas deixaram anualmente a cidade. Carapicuíba, Diadema e Santo André, também na Região Metropolitana, vêm em seguida, com saídas na ordem dos 2 mil anuais. "Não é o que temos registrado por fotos aéreas. Chegamos a reclamar dos dados para o IBGE. Caso estejam corretos, o que pode estar acontecendo é que parte dessa população esteja indo para outras cidades, como Carapicuíba e Itapevi", diz o geógrafo Ronnie Aldrin Silva, coordenador do programa Osasco Digital da Prefeitura de Osasco.


Na Baixada. A Região Metropolitana da Baixada Santista registrou um leve aumento no saldo migratório, abaixo do crescimento registrado nas décadas anteriores. Santos, que era a única das nove cidades da região que perdia população desde a década de 1990, ganhou a companhia nesta década de Cubatão e Guarujá. Deixaram Santos anualmente 1.310 pessoas, enquanto o Guarujá perdeu 664 por ano e Cubatão, 320.


Por ano
O crescimento médio anual da população paulista na década entre 2000 e 2010 foi de 427.778 pessoas.



Entre as três regiões metropolitanas do Estado de São Paulo, a de Campinas foi a que mais cresceu. Nesta década, os 19 municípios da região tiveram um saldo anual de 23.632 migrantes. Crescimento parecido já era anotado na década anterior, quando chegaram à região 26.433 pessoas por ano.




"Existem dois motivos principais que ajudam a entender esse crescimento", explica o secretário de Desenvolvimento e Gestão Metropolitana do Governo do Estado, Edson Aparecido. "Uma delas está relacionada ao dinamismo da região, que ampliou o Aeroporto Viracopos e recebeu novas indústrias na área. A segunda explicação se relaciona às proximidades com a Região Metropolitana de São Paulo. Muitos preferem trabalhar em São Paulo e morar em uma cidade próxima."



Cidades médias. O município de Indaiatuba foi o que registrou o maior saldo de migrantes na década passada, recebendo 3.806 pessoas por ano. Foi seguida por Campinas (saldo de 2.941) e Paulínia (2.251). Cidades como Valinhos e Vinhedo, que passaram a receber grandes condomínios de moradores vindos da capital paulista, também registraram aumento no saldo migratório. A única cidade que perdeu migrantes foi Santa Bárbara d"Oeste (-300).



Aparecido avalia que os resultados das pesquisas da Fundação Seade evidenciam uma tendência que já vem sendo demonstrada em estudos feitos pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa). Trata-se do crescimento das cidades médias no Estado, como são os casos de Limeira, Americana, São Carlos, Jundiaí, Sumaré e Araraquara, para citar alguns exemplos.



Tanto as grandes como as pequenas cidades têm perdido população. "Está havendo uma reorganização produtiva no Estado. Vejo os resultados como positivos, porque mostram descentralização dos investimentos que antigamente ficavam concentrados na capital. O governo do Estado está atento a essas transformações", diz Aparecido.

Fonte:
O Estado de S. Paulo, de 20/04/11

19 de abr. de 2011

As dez profissões do futuro

A partir das análises do mercado de trabalho, o governo americano periodicamente publica as profissões mais promissoras do futuro – ou seja, aquelas que vão demandar cada vez mais profissionais. Em primeiro lugar, está o profissional que souber misturar saúde com engenharia detalhamento da lista está neste link. (http://www.nytimes.com/2011/04/17/education/edlife/edl-17conted-t.html?_r=3&scp=1&sq=education%20life%2010%20top%20list&st=cse)


A tendência é baseada na ideia de que a mistura entre saúde engenharia vai demandar cada vez mais profissionais para, entre muitas outras coisas, desenhar inovadoras próteses, remédios que usam chips para combater infecções e tumores, sistemas ainda mais sofisticados de imagens, testes para avaliar propensões genéticas.


Se você olhar o topo do ranking vai ver que a saúde está dispara do na frente nas áreas de mais futuro, afinal o envelhecimento da população aumenta a demanda. No ranking, mais recentes ranking das dez mais promissoras ficaram as atividades que misturam engenharia, computação, química, biologia, matemática, química e saúde.


Daí também se entende por que o ensino superior nos Estados Unidos, está focado em produzir cursos interdisciplinares . Esse foi eleito o grande foco das melhores universidades americanas para não correrem o risco de obsoletismo.


***


Nessa área, o Brasil tem uma razão de orgulho: o mais premiado cientistas nos Estados Unidos americano que mistura engenharia com medicina é o neurocientista Miguel Nicolelis, formado na USP.





Por:

Gilberto Dimenstein, 19/04/11 - www.catracalivre.com.br

Um triste quadro

A esperança de vida da população negra segue inferior à da população branca, segundo o Relatório Anual das Desigualdades Sociais, lançado nesta terça-feira no Rio.

Entre a população preta e parda, a expectativa de vida, em 2008, era de 67,03 anos. Entre a parcela de cor branca, a perspectiva era de 73,13 anos.

Na média de toda a população brasileira, a esperança de vida era de 70,94 anos.

Entre os homens pretos e pardos, o indicador não passou de 66,74 anos. No contingente masculino da população branca, a expectativa alcançou 72,39 anos.

No estudo com as mulheres as mulheres, a esperança de vida entre pretas e pardas foi de 70,94 anos, abaixo dos 74,57 anos estimados para a parcela feminina da população branca.

O levantamento inédito foi feito pelo Nepo (Núcleo de Estudos de População) da Unicamp, e está incluído no relatório desenvolvido pela UFRJ.


Abandono e repetência escolar afetam mais os estudantes negros, segundo o Relatório Anual das Desigualdades Sociais 2009-2010, divulgado nesta terça-feira no Rio.


A avaliação de jovens de 15 a 17 anos mostra que 8 em cada 10 estudantes pretos e pardos estavam cursando séries abaixo de sua idade, ou tinham abandonado o colégio.

Entre os brancos, 66% dos estudantes estavam na mesma situação.

Na população de 11 a 14 anos, 55,3% dos jovens brasileiros não estavam na série correta em 2008. Entre os jovens pretos e pardos, essa proporção chega a 62,3%, bem acima dos estudantes brancos (45,7%).

"Mais uma vez, os dados também refletem que o problema de repetência e abandono, ao longo das coortes etárias, incide de forma desproporcional sobre os pretos e pardos", diz o relatório.

O estudo acentua que é justamente dos 11 aos 14 anos a fase em que crianças e jovens começam a abandonar a escola, daí a gravidade dessa questão.

Desenvolvido pelo Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o relatório evidencia que a população branca com idade superior a 15 anos tinha, em 2008, 1,5 ano de estudo a mais do que a negra.

Se comparado ao quadro de 1988, essa diferença entre brancos e negros pouco mudou. Naquela época, os brancos tinham 1,6 ano de estudo a mais, em média.

Atualmente, a população preta ou parda com mais de 15 anos tinha 6,5 anos de estudos em 2008, ante 3,6 anos em 1988. Entre os brancos, houve um salto de 5,2 anos para 8,3 anos de estudos.
Apesar de o número de homicídios no país permanecer estável nos últimos anos, o número de negros assassinados não para de subir, revela o Relatório Anual das Desigualdades Sociais, divulgado nesta terça-feira, no Rio.

 
A probabilidade de um homem preto ou pardo morrer assassinado é mais do que o dobro se comparado a de um indivíduo que se declara branco.

Enquanto os homicídios entre homens brancos vêm caindo ao longo dos últimos anos, o movimento entre negros e pardos é inverso.

Em 2001, homens pretos ou pardos representavam 53,5% do total. Ao mesmo tempo, os brancos significavam 38,5%.

Já em 2007, do total de homicídios registrados, 64,09% eram de negros. Já a proporção de brancos recuou para 29,24%.

Em 2007, para cada 100 mil habitantes, 59,8 homens pretos ou pardos morreram assassinados. Entre a população masculina branca, essa proporção 29,2 homens mortos a cada 100 mil habitantes.

No início da década, foram registrados 44.105 mil homens assassinados. Em 2007, esse dado ficou estatisticamente estável, recuando para 43.938.

Entre as mulheres, a razão de mortalidade das pretas ou pardas era 41,3% superior à observada entre as mulheres brancas, segundo os dados de 2007.

O estudo, desenvolvido pela UFRJ, foi feito a partir de dados do Ministério da Saúde e da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios).

Fonte:

Folha de S. Paulo, de 19/04/11

Bullying: crime

Promotores da Infância e Juventude de São Paulo querem que o bullying seja considerado crime. Um anteprojeto de lei elaborado pelo grupo prevê pena mínima de um a quatro anos de reclusão, além de multa. Se a prática for violenta, grave, reiterada e cometida por adolescente, o autor poderá ser internado na Fundação Casa, a antiga Febem.
Nos casos de cyberbullying, pena prevista pela proposta é ainda maior.
A proposta prevê que poderá ser penalizada a pessoa que expuser alguém, de forma voluntária e mais de uma vez, a constrangimento público, escárnio ou qualquer forma de degradação física ou moral, sem motivação evidente estabelecendo relação desigual de poder. Estão previstos casos em que a pena pode ser ampliada (leia quadro nesta página), como quando é utilizado meio eletrônico ou qualquer mídia (cyberbullying). “Hoje, como não há tipificação legal específica, os casos que chegam são enquadrados geralmente como injúria ou lesão corporal”, explica promotor Mario Augusto Bruno Neto, secretário executivo da promotoria.


Como o bullying e o cyberbullying são praticados na imensa maioria dos casos por crianças e adolescentes, os promotores vão precisar adaptar a tipificação penal dessas práticas ao que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O anteprojeto será submetido, no dia 6 de maio, a aprovação na promotoria e, depois, encaminhado ao procurador-geral do Ministério Público (MP), Fernando Grella Vieira, que deverá enviar o texto a um deputado para que o documento seja encaminhado ao Congresso. Antes disso, porém, a proposta será divulgada no site do MP para consulta pública. “Queremos que a população envie sugestões para que possamos aperfeiçoá-la”, explica o promotor Bruno Neto.


A educadora Madalena Guasco Peixoto, da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), considera a proposta exagerada. “Essa questão não se resolve criminalizando, e para casos graves já existe o crime de lesão corporal”, opina. “As escolas precisam assumir a responsabilidade e, se tiver de haver punição, que seja aplicada pelos estabelecimentos de ensino”, defende. “O problema é que as escolas estão sendo omissas”, rebate o promotor Thales Cezar de Oliveira, que também assina o anteprojeto de lei.


No ano passado, dois casos graves de cyberbullying que envolviam alunos de colégios de classe média alta de São Paulo foram parar no MP. Em um deles, as ofensas foram postadas por três meninas contra uma colega, obrigada a trocar três vezes de escola. Mesmo assim, os novos grupos acabavam descobrindo a história. “(Esses adolescentes) frequentam as mesmas baladas, clubes e shoppings e a notícia circulou também nesses meios”, conta Bruno Neto. Após oito meses, o caso foi resolvido na semana passada. As autoras concordaram em pedir desculpas à vítima evitando que a história fosse encaminhada à Justiça e tivesse desdobramentos legais e financeiros, já que a família havia entrado com ação de indenização. Mas, antes de chegar a esse resultado, a família da menina perseguida pelo grupo foi obrigada a contratar advogado nos Estados Unidos para conseguir produzir provas contra o grupo, porque as postagens eram feitas por meio de um site sediado em um provedor fora do Brasil.


O segundo também era um caso de cyberbullying punido com liberdade assistida, medida prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em que o acusado é obrigado a comparecer a um setor do MP para ter acompanhamento de psicólogos, educadores e assistentes sociais.


6 ANOS é a pena máxima prevista no anteprojeto para casos que deixem sequela psicológica
4 ANOS é a pena máxima prevista para a prática de bullying, sem as agravantes, segundo anteprojeto
1 ANO é a pena mínima para casos de bullying no anteprojeto elaborado pelos promotores

O QUE PODE MUDAR
COMO O BULLYING É TRATADO HOJE:
- É enquadrado como injúria ou lesão corporal

- Injúria consiste em atribuir a alguém qualidade negativa, que ofenda sua honra, dignidade ou decoro. A ofensa pode ser verbal, por escrito ou física. Pena de detenção de um a seis meses ou multa. Se há violência, a detenção é de três meses a um ano e multa. Se utilizar elementos como raça, cor, etnia, religião, entre outras a pena é de reclusão de um a três anos e multa

- A lesão corporal consiste em ofender a integridade corporal ou a saúde. Pena de detenção de três meses a um ano. Se for grave, reclusão, de um a cinco anos

ENTENDA
O QUE É BULLYING:

- Ocorre quando há violência sistemática, com agressões físicas ou verbais repetitivas, contra a mesma criança

O QUE É CYBERBULLYING:



- Quando as ofensas são postadas em redes sociais como Facebook, Orkut, Twitter, MSN, SMS com mensagens ou fotos e também por meio de mensagens de celular

COMO AGEM AS VÍTIMAS:



- Em casa mudam o comportamento, têm dores de cabeça e estômago, falta de apetite e insônia

- Na sala de aula têm uma postura retraída, faltam frequentemente e demonstram tristeza

- No recreio escolar ficam isolados do grupo


Fonte:


O Estado de S. Paulo, de 19/04/11