27 de set. de 2012

Ciência e linguagem


CRÔNICA
Sir Francis Bacon deu um conselho curioso aos que estudavam a Natureza: deveriam desconfiar de tudo que suas mentes aceitassem sem hesitação. Talvez fosse uma maneira de prevenir contra a ilusão de que qualquer descoberta humana fosse completa, ou tivesse completamente desvendado o que Deus encobrira. No momento (século 17) em que crescia a ideia herética de que existia um metafórico Livro da Natureza tão cheio de mensagens de Deus para os homens quanto o Livro dos Livros, Bacon aconselhava a Ciência a não desprezar o que diziam os mitos e as Escrituras. A glória de Deus se manifestava de várias formas. Alguma eram apenas mais poéticas do que as outras.
A primeira "mensagem" assim identificada do Livro secular da Natureza foi o magnetismo, que só começou a ser estudado a fundo pelo inglês William Gilbert, contemporâneo de Bacon na corte da rainha Elizabeth I, de quem era médico. O magnetismo era a prototípica evidência de uma força invisível na Natureza, a primeira alternativa à pura vontade de Deus como algo por trás de tudo. Albert Einstein contava que o presente de uma bússola, quando era menino, lhe dera a primeira sensação desta força misteriosa, e o primeiro ímpeto de desvendá-la.
Mais do que ninguém, Einstein podia reivindicar uma glória de descobrir igual à glória de Deus em ocultar, embora nunca abandonasse sua devoção quase religiosa a um determinismo harmônico do Universo, atribuindo-o a Deus ou a que outro nome se quisesse dar ao indesvendável. Mas Einstein não seguiu o conselho de Francis Bacon, de desconfiar do que o satisfazia. Satisfez-se tanto com suas certezas que passou os últimos anos da vida buscando uma teoria unificada da gravidade e do eletromagnetismo que refutasse a teoria quântica que as ameaçava, e tornava a matéria e seu comportamento inexplicáveis em qualquer linguagem, científica ou poética.
Quando recém se começava a falar em partículas subatômicas e seu estranho procedimento o físico dinamarquês Niels Bohr disse que elas só poderiam ser descritas usando-se a linguagem como na poesia. Um sombrio reconhecimento de que a linguagem racional não teria como acompanhar a especulação científica e estava condenada à analogia e à aproximação inexata. Assim os físicos falam em teorias das cordas, em um universo em forma de donut, ou de bola de futebol, e isso é apenas o som da mente humana se chocando contra os limites da linguagem, como moscas (para usar outra analogia) na vidraça.
Einstein morreu sem se resignar à ideia de que a verdadeira e inexpugnável glória de Deus começa onde termina a linguagem humana.
Por
Luís Fernando Veríssimo

A verdadeira batalha pelo Islã


Das eleições no Egito pós-Mubarak [1] aos debates na Tunísia sobre liberdade de imprensa [2]: está em curso uma batalha pela alma política do mundo islâmico. Mas, diferente do que se previa nos dias da Guerra Global ao Terror [Global War on Terror (GWOT)], as visões em confronto não são o terrorismo jihadi e o secularismo à moda ocidental.
As novas realidades que emergem da Primavera Árabe mostram que o Islã ocupará posição chave no debate político, do Marrocos à Indonésia. Mas ainda não se vê com clareza se isso levará a maior coesão das sociedades ou aumentará as tensões no mundo islâmico e entre ele e atores externos. Para entender que feições terá o futuro, temos de analisar a luta que se trava no campo dos que creem: reformistas islamistasversus salafistas arquiconservadores.
Proliferam concepções erradas sobre a luta, resultado de condições sociopolíticas contemporâneas, mas que nada têm de novas: é a volta do confronto entre rivais ancestrais, com novos interesses em disputa. Debates sobre o papel adequado do Islã na política vêm despertando paixões desde o final do Califato Rashidun [3].
Enquanto os reformistas destacam o caráter dinâmico do Islã – os textos não podem jamais ser alterados, mas nossas interpretações mudam em função de novos desafios –, os salafistas partem de interpretação literalista do Corão e da Sunna do Profeta Maomé. Reforçam o conservadorismo tanto na esfera pessoal como no reino da política, o que produz posição muito ambivalente, para dizer o mínimo, em relação aos processos democráticos.
Ibn Taymiyyah, intelectual ativo no século 13, [4] e padrinho intelectual dos salafistas do século 21, rejeitou a participação popular nos processos de mudança política: “O que governa pode exigir obediência dos governados, porque até um governador injusto é melhor que a guerra e a dissolução da sociedade”. As disputas de hoje revisitam a antiga divisão entre os que creem na emancipação da sociedade mediante reformas sancionadas pelo Islã e os que questionam a inovação e o debate livre, seja na teologia seja na política.
Salafistas versus Islamistas

Apesar das muitas diferenças, há importantes semelhanças entre salafistas e islamistas. Não se trata de escolher entre ‘ocidentalização’ e ‘Islã tradicional’: nenhum desses campos existe nas categorias-caricatura da Guerra Global ao Terror. As duas fórmulas são produtos da modernidade [5], que pensa sobre política e sobre religião de modo profundamente moderno, e que responde à modernização com discursos, instituições e ideias que estão, todos, profundamente enraizados no imaginário do século 21.

O papel da religião na eleição egípcia

Apesar da retórica candente, não se trata de voltar à Arábia do século 7º. Ambos, salafistas e islamistas lamentam a perda de status nos séculos passados e propõem vias para um Renascimento do mundo islâmico. Ambos contestam a injustiça social, a corrupção do “Islã real” e a inabilidade dos muçulmanos para enfrentar os desafios que lhes chegam do ocidente. Ambos falam de um perdido passado de glórias e pregam que se reinvente o status-quo. Mas, enquanto os salafistas destacam a ordem, o ritual externo e a diferença religiosa dentro e fora do mundo islâmico, os islamistas destacam que a civilização islâmica sempre foi, historicamente, uma força progressista no mundo; que abraçou a inovação, a ciência e a racionalidade e engajou-se em livre debate dentro de um contexto islâmico que visa a integrar, não a dividir.

As questões nucleares em que salafistas e islamistas confrontam-se hoje são as questões da democracia liberal, da liberdade e da inclusão social. As respostas produzidas pela rivalidade entre eles – nas eleições no Egito; na guerra civil na Síria, onde já há três lados em guerra; dentro do Regime de Salvação do Sudão, etc. – estão determinando o futuro do mundo islâmico. Ambos, islamistas e salafistas, têm relacionamento difícil com eleições.
No tempo da descolonização, os dois grupos desejavam um renascimento político-espiritual, não apenas uma independência meramente formal.
Mas a ascensão do pan-arabismo e de governos socialistas – no Egito de Nasser, no Iraque de Saddam, na Líbia de Gaddafi – marginalizou todos os projetos de inspiração religiosa. Com esses regimes tornando-se cada vez mais autoritários, as opções de mudança de dentro para fora se reduziram drasticamente. Os salafistas firmaram um pacto faustiano: seguindo Ibn Taymiyyah, tornaram-se indiferentes aos desafios e provocações, e ganharam, a partir dos anos 1970s, a liberdade necessária para desenvolver suas próprias redes sociais, com apoio dos sauditas, para competir contra os islamistas. O levante salafista de 2012, incluindo a evidência de que o Partido Al-Nour[6] conquistou 25% dos assentos com direito a voto no Parlamento do Egito, é resultado direto[7] dessa decisão e de seus desenvolvimentos.
Mudando o centro político
Os islamistas têm mostrado relações mais amigáveis com a democracia eleitoral que os salafistas, mas houve experiências traumáticas, no passado, que levaram muitos a questionar as intenções da Fraternidade Muçulmana do Egito[8] e do Partido Ennahda da Tunísia. No Sudão e na Argélia, coalizões islamistas candidataram-se ao Parlamento, mas o processo levou a violência em larga escala. Em Cartun, os islamistas abandonaram o compromisso com a democracia, aliando-se aos militares para um golpe de estado em 1989 – aliança controvertida[9] que veio, depois, a dividir o Movimento Islâmico Sudanês, solapando suas promessas de modernização e de democratização. Em Argel, a Frente Islâmica de Salvação (FIS) alcançou maioria absoluta nas eleições parlamentares em 1991, mas recusaram-se a acomodar os interesses da poderosa classe militar da Argélia. Radicais dos dois lados enfrentaram-se numa guerra civil[10] que custou entre 150 mil e 200 mil vidas.
Os erros cometidos pelos islamistas da Argélia e Sudão chegaram ao ápice quando, já no quadro do poder absoluto, os teóricos da Guerra Global ao Terror conseguiram ignorar a divisão entre islamistas e salafistas: e os dois lados deixaram-se abordar pelo prisma da al-Qaeda e de uma radicalização possível, ao contrário do que se viu entre os “bons” secularistas. Mas a Primavera Árabe mudou o centro de gravidade político do confronto entre salafistas e islamistas e forçou os dois lados a um novo engajamento com a democracia.
Enquanto os salafistas começaram, relutantes, mas com sucesso, a participar de eleições, os islamistas abraçaram sua agenda islâmica original de liberdade, enfatizando as reformas econômicas, a governança participativa e a liberdade religiosa. Hoje, o momento é de grandes oportunidades no mundo islâmico, mas, também, de riscos extremos.
Apesar do ímpeto eleitoral crescente nos últimos anos, uma vitória dos salafistas nessa luta parece improvável, no longo prazo: a rígida teologia salafista oferece fraca orientação sobre como enfrentar o declínio econômico, a crise na educação[11] no mundo árabe e as massas jovens. Mesmo assim, os salafistas ainda ajudam a impedir que os islamistas alcancem vitória ampla. Os mais otimistas[12] argumentam que o envolvimento nas instituições políticas forçará os salafistas a construir soluções pragmáticas para as questões arroz-com-feijão. É pensamento de excessivo otimismo, que ainda pode ser eclipsado pela aliança entre os velhos establishments militares e os zelosos salafistas para torpedear o projeto de seus arqui-inimigos islamistas. Esse arranjo ameaça aprofundar a divisão entre sunitas e xiitas no Islã, pondo em risco a posição de minorias religiosas e levando a irrupções (nem sempre propriamente “espontâneas”) de violência contra “infiéis”, como se viu recentemente em ataques a igrejas no Iraque, Egito[13] e Sudão[14].
O renascimento islâmico
Escolher entre islamistas e salafistas não é escolher entre seis e meia dúzia. Muitos líderes islamistas amadureceram dramaticamente desde as experiências na Argélia e no Sudão e começaram a abandonar suas utopias revolucionárias, sem sacrificar os princípios. Embora muitos deles ainda se equivoquem muito sobre os direitos humanos “ocidentais”, o compromisso da grande maioria dos islamistas com o constitucionalismo, com dar maior destaque às mulheres muçulmanas na vida política e com promover maior harmonia no relacionamento com outras fés religiosas já não pode ser questionado. Vozes islamistas tornaram-se empenhadas e confiáveis defensoras desses princípios, mais, até, que muitos secularistas na Tunísia, na Argélia e no Egito, os quais, no passado, muitas vezes, empenharam-se mais em “dissolver a democracia para salvá-la”.
A comunidade internacional terá de aprender a conviver com um vibrante mundo islâmico religioso, com papel maior e mais visível para o Islã, na política do dia a dia: modernizar não significa ocidentalizar. Os que se preocupem com segurança internacional, liberdade de expressão e justiça social devem considerar bem-vindo o projeto trazido pelos islamistas, para derrotar o salafismo e as ditaduras. Há movimentos fortes, da Mauritânia à Malásia, por um renascimento social ético amplo, e por um renascimento islâmico que lance a civilização islâmica de volta à posição de destaque que lhe cabe, no cenário global.
Os que se interessem por ver, para além das discussões sobretudo simbólicas sobre turistas de biquinis e consumo de bebidas alcoólicas, um islamismo modernizante, como o de Tayyep Recip Erdogan na Turquia, não é fuga reacionária da realidade, mas grito sincero pela reestruturação progressista, a partir de direitos, no plano social doméstico e global. É também um modo de resistir contra uma forma de globalização que, para muitos, não realizou o projeto da modernidade – de plena mobilidade social e cada vez mais amplas liberdades individuais – e que, na prática, continua a aprofundar as injustiças e a gerar desorientação psicossocial.


Fonte:
Por
Ahmed Daak e Harry Verhoeven, da Al-Jazeera
Outras Palavras

17 de set. de 2012

Um pavio de 14 minutos


Inocência dos Muçulmanos já entrou para a história do cinema como o filme mais nefasto até hoje produzido. Nem Ramona, casual "responsável" por uma série de incêndios em salas de exibição americanas no século passado, nem o último Batman, que no Colorado deixou um saldo do 12 mortos e 58 feridos, causaram tanto estrago quanto o filmeco contra Maomé que essa semana tomou conta do noticiário internacional.
Por sua causa, já mataram um diplomata e três funcionários do consulado dos Estados Unidos em Benghazi (Líbia), invadiu-se a embaixada americana no Cairo e atos de vandalismo e extrema violência foram cometidos no Egito, no Iêmen, no Sudão, no Líbano, na Nigéria, na Tunísia e em Bangladesh, comprometendo o que ainda resta da Primavera Árabe e da ascendência diplomática da Casa Branca no Oriente Médio. Além de expor a um revertério a campanha reeleitoral de Obama, principal fiador do fim do jihadismo. Há 33 anos uma invasão da embaixada americana em Teerã, insuflada pelo aiatolá Khomeini, custou a reeleição de Jimmy Carter.
Mais um vídeo do que propriamente um filme, de que se pretende trailer, Inocência dos Muçulmanos nem precisou chegar à tela grande para cumprir seus objetivos políticos. Bastou-lhe o circuito gratuito e universal do YouTube. Mero pretexto para ações em adiantado estado de gestação, sem a colaboração do fanatismo religioso e de um ressentimento acumulado contra os americanos e Israel na região, o tosco agitprop anti-islâmico, um pavio de ódio medindo apenas 14 minutos, não teria provocado tantos distúrbios.
Jesus Cristo foi ridicularizado por Luis Buñuel e Salvador Dalí em L'Âge d'Or, gozado pelos Monty Python e incomodamente humanizado por Martin Scorsese, mas nenhuma dessas supostas blasfêmias cinematográficas incitou os cristãos mais fervorosos a represálias violentas. No tempo do cinema mudo, a figura de Cristo era sempre respeitosamente mostrada de costas ou apenas vista de longe, seu rosto um mistério, um tabu, como o de Maomé jamais deixou de ser. Mas nem se tratasse o profeta islâmico de forma reverente Inocência dos Muçulmanos seria visto com indulgência pelos iconofóbicos filhos de Alá.
Além de feições humanas, Maomé ganhou atributos infamantes. Retrataram-no como um monstro messiânico, como um bastardo corroído pela cobiça, mulherengo, pedófilo, sanguinário, e seus seguidores como um bando de retardados a serviço de uma religião "inerentemente opressiva". Se a intenção primordial era vender o peixe de que os seguidores do Islã são intolerantes e agressivos, Sam Bacile, o autor oficial da patranha, não errou o alvo.
Sam Bacile, desmascarou-se em menos de dois dias, é o pseudônimo de um californiano de 55 anos chamado Nakoula Basseley Nakoula. Não é um agente imobiliário israelense, estabelecido em Los Angeles, como se acreditava que Bacile fosse, mas um cristão copta, visceralmente anti-islâmico, julgado e preso por várias falcatruas financeiras. No set de filmagem, apresentava-se como egípcio e falava árabe, conforme testemunhos recolhidos por dois incansáveis repórteres da Associated Press, Gillian Flaccus e Stephen Braun, responsáveis pelo desvendamento da misteriosa encrenca.
Ainda oculto pelo nome falso, Nakoula conversara por telefone com a reportagem do Wall Street Journal, que engoliu a cascata de que ele estava foragido. Ninguém do ramo imobiliário e da indústria de cinema ouvira falar em "Sam Bacile"; o serviço secreto de Israel, tampouco. Suspeitou-se, por algumas horas, que por trás da enigmática figura estivesse o pastor evangélico Terry Jones (aquele que há dois anos andou queimando exemplares do Alcorão e, meses atrás, prometeu exibir o trailer de Inocência dos Muçulmanos em seu templo, em Gainesville, na Flórida) ou o islamofóbico histórico Morris Sadek, copta egípcio radicado na Califórnia.
As pistas ainda estavam desencontradas quando surgiu uma nova incógnita: Steve Klein, securitário de Hemer (Califórnia) e veterano da Guerra do Vietnã conhecido no Estado por suas manifestações contra o Islã e o aborto em escolas, agremiações e até pelo microfone amigo de uma rádio cristã do Oriente Médio. Klein apresentou-se ao site da revista The Atlantic como consultor de "Bacile" na produção do filme, e confirmou: "Não é seu verdadeiro nome, nem ele é israelense". Revelou ainda ter-lhe lembrado do que aconteceu com o holandês Theo van Gogh, assassinado por um militante islâmico em 2004 por causa de um filme sobre abusos do Islã.
Pelo número do telefone de "Sam Bacile", os dois citados repórteres da AP chegaram a Nakoula, perto de Los Angeles, e descobriram que ele não se limitara a dar apoio logístico à produção do filme. Nakoula havia produzido e dirigido Inocência dos Muçulmanos, filmado nos arredores de Los Angeles durante três meses no verão de 2011, com 59 atores e 45 técnicos, ao custo de US$ 5 milhões, que teriam sido doados por mais de uma centena de judeus americanos.
A atriz Cindy Lee Garcia, identificada e localizada através de uma agência de casting de Hollywood, confirmou parte da história. O filme, intitulado Desert Warriors (Guerreiros do Deserto) durante as filmagens, não tinha nenhuma conotação religiosa, segundo ela, que confessou ter ficado chocada ao constatar, no YouTube, que haviam dublado suas falas em inglês para o árabe e enfiado Maomé numa intriga cujo vilão não se chamava Muhammad, mas "Master George", um celerado sequestrador de crianças e estuprador de mulheres.
Filmes com mensagens anti-islâmicas não são uma raridade na América pós-11 de Setembro. A Clarion Foundation, criada pelo rabino canadense Raphael Shore, especializou-se nesse tipo de documentiras doutrinárias e vai de vento em popa. Estreou em alto estilo com Obsession, paranoico alerta sobre a guerra que os muçulmanos radicais deflagrariam contra o Ocidente caso Obama se elegesse presidente, distribuído gratuitamente em milhares de domicílios durante a campanha presidencial de 2008.
Anders Breivik, o recém-condenado terrorista de Oslo, menciona Obsession uma dezenas de vezes em seu manifesto islamofóbico. Voltamos às Cruzadas.
Por
Sérgio Augusto, Caderno Aliás - O Estado de S. Paulo

14 de set. de 2012

Tabacaria { FERNANDO PESSOA }

183 CAFÉ FILOSÓFICO - UMA HISTÓRIA DA SUBJETIVIDADE NO OCIDENTE 02

182 CAFÉ FILOSÓFICO - UMA HISTÓRIA DA SUBJETIVIDADE NO OCIDENTE 01

Buraco do Conhecimento: Analfabetismo científico, artístico e político

Buraco do Conhecimento: Analfabetismo científico, artístico e político: Com o passar dos anos, os jovens foram perdendo o interesse por assuntos como a arte, a política e a ciência, gerando uma...

Leitura ativa



A polêmica envolvendo o escritor Monteiro Lobato, acusado de empregar trechos racistas em seus livros, está longe de terminar. 

Nesta terça-feira, após mais de três horas de discussão, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto de Advocacia Racial (IARA) encerraram a primeira audiência de conciliação sobre o livro Caçadas de Pedrinho sem chegar a um acordo. Uma nova reunião foi marcada para o dia 25 de setembro. 

O parecer do CNE que iniciou o caso foi suscitado sobretudo pela abordagem, no livro, da personagem Tia Anastácia, devido a trechos como o que comparava a cozinheira a uma "macaca de carvão". Embora o MEC tenha se comprometido a acrescentar uma nota explicativa contextualizando historicamente esse tipo de comparação, o IARA acha pouco. 

No texto da ação que move contra o MEC diz: "Não há como se alegar liberdade de expressão" quando "a obra faz referências ao 'negro' com estereótipos fortemente carregados de elementos racistas".

Sobre esta delicada questão, pronunciou-se na Folha de S. Paulo de ontem a Professora Noemi Jaffe (USP), sugerindo a importância da reflexão sobre os usos da linguagem e suas vicissitudes. 


OPINIÃO
Não se pode tratar alunos como meros espectadores ingênuos
NOEMI JAFFE

A palavra ficção vem de "fingere", que, no inglês, derivou também em "finger", ou dedo, em português. Isso porque era com os dedos que os artistas da antiguidade modelavam o barro para dar a ele formas inventadas.

Atualmente, como produto dessa história de modelagens e representações, ficção é praticamente sinônimo de "mentira", "fingimento": são formas criadas pela mente humana.

É de se estranhar, portanto, para dizer o mínimo, que alguns educadores, entre cujos objetos de trabalho estão a invenção verbal, queiram censurar a obra de Monteiro Lobato, de Dalton Trevisan, de Jorge Amado ou de quem quer que seja, por conterem alusões racistas, pornográficas ou afins.

Antes de tudo, de qualquer argumentação histórica ou contextual, as obras desses autores, sob ameaça de censura, são invenções ficcionais, todas perfeitamente delimitadas por esse escopo.

Nem os alunos são ingênuos a ponto de achar que uma narrativa literária é a verdade e nem os professores -espera-se- vão abordar essas histórias como se elas o fossem.

Quando um professor se depara, em sala de aula, com qualquer tratamento ficcional de teor divergente das Leis de Diretrizes e Bases, que, entre outras coisas, proíbem o ensino de conteúdo racista, é só mostrar aos alunos que:

1) é ficção;

2) a língua é um organismo vivo, passível de mudanças;
3) os hábitos comportamentais e literários também se modificam;
4) um autor e sua obra não podem ser julgados por afirmações ficcionais e contextualizadas.

Na verdade, trata-se de uma ótima oportunidade de se discutirem os limites entre a realidade e a ficção e o significado das construções politicamente corretas, que muitas vezes mais disfarçam do que educam.

Isso, aliás, independe de faixa etária ou econômica. As crianças e adolescentes brasileiros são suficientemente preparados pelo cinema, a televisão, a internet, a vida e a própria literatura para fazerem a distinção entre o real e o não real. Não se pode tratar os alunos como se fossem meros espectadores, ingênuos e influenciáveis.

LEITURA ATIVA

A leitura ativa é aquela que possibilita ao aluno ler criticamente, compreendendo o tema, a linguagem e as mudanças sociais e históricas.

Se fosse o caso de censurar liminarmente preconceitos ficcionais, hoje não leríamos Madame Bovary e provavelmente parte da Bíblia poderia ser vetada.

A literatura e a arte são territórios onde cabem o erro, o preconceito, a divergência e a loucura. Isso não deseduca, mas, ao contrário, prepara os alunos para questionarem a si mesmos e ao mundo.


Fonte:

Por

NOEMI JAFFE, doutora em literatura brasileira pela USP, ex-professora de literatura em colégios particulares em São Paulo e autora de "Quando Nada Está Acontecendo" (Martins), entre outros.




12 de set. de 2012

A influência da sociedade nas emoções e no pensamento dos indivíduos




            A sociedade ao longo dos anos moldou a mente dos indivíduos. E isso gerou a padronização do comportamento tanto humano como animal com base nos conceitos assim criados.
            O ser humano ao domesticar os animais transformou-os em uma forma de semi-indivíduos da sociedade, causando a uniformização do comportamento através da memória genética de seus ancestrais e do próprio instinto. Por meio da evolução, os lobos foram domesticados até se tornarem cães populares. O Husky Siberiano, por exemplo, possui instintos dos seus ancestrais lupinos (seres da família canídea, descendentes próximos dos lobos).
            As emoções transmitidas por todos os seres humanos nada mais são do que meios que a sociedade moldou para que os seres mais evoluídos pudessem seguir seu comportamento animal de forma mais racional. Desta forma, gerou mitos que foram usados como ícones para o comportamento social. O cristianismo no passado construiu indivíduos que se preocupavam mais com a vida após a morte do que a vida terrena. Porém a racionalização de nossos instintos é um equívoco a nossa própria existência.
Devemos procurar metas que possamos realizar na vida terrena e não nos preocuparmos com uma vida fantasiosa. Para isso devemos abrir mão das nossas prisões sociais. E, assim, aproveitar a vida, buscando nossos sonhos e procurar a máxima sabedoria possível. Devemos desistir de nossos antigos ideais e construir um futuro com base em nossos próprios pensamentos. Portanto, alcançar uma sociedade justa para todos.
            A todos que leem este texto: aproveite a vida e construa suas próprias ideias livres dessa sociedade construída sobre uma falsa moral.

Fonte:
Por
Lucca Novaes (aluno da Oficina da Escrita)
buracodoconhecimento.blogspot.com.br


5 de set. de 2012

A Depressão do século XXI


A atual crise econômica mundial é comparada à Grande Depressão de 1929. Esta foi considerada a pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX. Já o recente período de instabilidade, que se iniciou em 2008, é um desdobramento da crise financeira internacional.
A crise se instalou no mundo, a partir da venda de “subprimes” (crédito bancário de alto risco, crédito a devedores duvidosos) no setor hipotecário, que sofreu um período de falta de pagamento nos Estados Unidos. A consequência foi a falência precipitada de um dos bancos mais importantes, tradicionais e de investimentos da América do Norte, o “Lehamn Brothers”. Porém, esta ação aparentemente interna, afetou muito também o comportamento especulativo e globalizado. Isso tudo, por que os EUA são conhecidos pela sua potencial influência de compra no mundo.
Desta forma, as altas taxas de desemprego, o produto interno bruto (PIB), a produção industrial e os preços de ações de diversos países sofreram declínio. Como resultado, as operações de crédito e financiamento das empresas brasileiras se tornaram mais onerosas e burocráticas. Assim, uma vez que os americanos não são mais investidores dos produtos brasileiros, para conter gastos, as organizações econômicas nacionais também diminuíram a oferta de trabalho e salários, causando demissões.
O mundo, portanto, está injetando bilhões de dólares para tentar salvar as seguradoras e bancos do setor para que a economia se reerga. Fato muito diferente do que aconteceu em 1929, em Nova Iorque, pois o mercado financeiro mundial, hoje, sabe a importância em se manter o sistema em funcionamento e com credibilidade.