13 de jun. de 2012

Consciência individual X tirania estatal







“Deixa-me sofrer o tremendo castigo de minha temeridade! Por muito que eu sofra, nunca serei privada de uma bela morte."Sófocles - Antígona, I, 20

Antígona, tragédia grega escrita por Sófocles, encenada em 441 a.C., onze anos antes de Édipo Rei é uma sequência do mito da família Labdácias. Antígona arrisca a vida em nome de um princípio e arranca até hoje mesmo escrita a 2500 anos atrás indagações e admiração do público ocidental.

Tal maldição incidiu sobre toda a família de Lábdaco, rei de Tebas, por haver seu filho Laio raptado a Crisipo, filho do rei Pélops. Hera, a protetora dos amores normais, pelos lábios de Pélops, amaldiçoou a Laio e a todos os seus descendentes. Quando Laio, que sucedera a seu pai Lábdaco no trono de Tebas, se casou com Jocasta, dirigiu-se ao Oráculo de Delfos e perguntou se sua união com a jovem tebana seria fecunda: “se de Laio e Jocasta nascer um filho, ele matará o próprio pai e casar-se-á com a própria mãe”, respondeu a Pitonisa. Tudo se realizou consoante a predição de Apolo, nós o sabemos, através do mito e da tragédia preferida de Aristóteles, Édipo Rei. Pois bem, quatro são os filhos de Édipo e Jocasta: Etéocles, Polinice, Antígona e Ismene que ficaram sob a tutela de Creonte, irmão de Jocasta. Ao completarem a maioridade, Etéocles e Polinice, segundo acordo prévio, combinam reinar alternadamente por um ano.

Etéocles, todavia, se recusou a entregar o trono a seu irmão Polinice, que, por isso mesmo, uniu-se a seu sogro Adrasto e marchou contra Tebas na famosa expedição do Sete contra Tebas, que mereceu, com este mesmo título, uma famosa tragédia de Ésquilo.

Os irmãos, a maldição familiar pesava sobre eles, morreram um às mãos do outro. Creonte, como parente mais próximo, assumiu o poder. Decretou funerais suntuosíssimos para Etéocles e proibiu, sob pena de morte, que se desse sepultura a Polinice, por considerá-lo traidor da pátria, embora o mesmo postulasse apenas um direito que o irmão Etéocles teimara em negar-lhe.

A tragédia ANTÍGONA se inicia aqui!

Antígona livremente tomou uma decisão: apesar do edito proibitório de Creonte, resolve, embora sabendo que vai morrer dar sepultura a seu irmão Polinice.
Surpreendida pelos Guardas, que vigiavam o cadáver insepulto de Polinice, Antígona é presa e levada à presença de Creonte. Esse encontro é o choque da polis, da ditadura estatal X religião, postulado da consciência individual – um verdadeiro duelo verbal.

O professor Junito de Souza Brandão escreve: “Para nós também Antígona é a oposição de duas normas jurídicas: athemistía, a ilegalidade de uma decisão, cifrada em Creonte, que representa uma polis especial, apolis sofística, em contraposição a thémis ou nómos, inserida na decisão de Antígona, que representa a religião, a consciência individual.”



Antígona, então, foi condenada a ser sepultada viva. O direito ao sepultamento era tão sagrado, que nem mesmo os deuses podiam impedi-lo. Houve a intervenção de Hêmon, filho único de Creonte e noivo de Antígona, em nome da justiça e do amor, porém foi contraproducente. Porque referente à justiça, Creonte se julga seu único representante. E quanto ao amor, para Creonte o único amor é o físico, o resto é insensatez. Hêmon”teria outros ventres que trabalhariam para ele”.

Antígona se enforca na gruta em que fora jogada e Hêmos se uni a ela à morte, pois deveria ter se unido em vida.

Creonte com o cadáver do filho aos braços começa a purgar suahamartía (Nas tragédias gregas uma forma comum de hamartía era também o pecado contra a hybris - aquele orgulho ou excesso de autoconfiança que conduz o protagonista a desobedecer aos avisos divinos ou a violar qualquer importante lei moral. A hybris conduz à queda e à inevitável punição)

O Mensageiro traz para Creonte a notícia que Eurídice, sua esposa, quando soube da morte de seu único filho, matou-se no palácio.

Uma das características fundamentais da obra de Sófocles é fazer que suas personagens, no fecho da tragédia se apaguem numa sombra física e psíquica.

Vitória, portanto, da consciência individual sobre a tirania estatal.

“Portanto, o extraordinário drama abarca também uma desavença intradinástica, onde a velha estirpe, representada pelo sangue contaminado de Antígona, luta para salvar sua honra de uma família decadente, enquanto uma nova estirpe, que se imagina ainda não poluída, tenta afirmar-se como sucessora legítima da Casa dos Labdácidas. Ambos seriam pois, faces diferentes de uma exigência genética. Uma inteiramente infectada, outra tentando fugir ao contágio.” – na erudita interpretação que Kathrin Rosenfield (Antígona - de Sófocles a Hölderlin, P.Alegre, 2000).

Luciana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário