Os gregos, na antiguidade, chamavam de idiotés quem não participava da política, ou seja, quem egoistamente ficava isolado em sua casa, obcecado em suas mesquinharias, sem contribuir para a comunidade, para a polis (cidade). Desse idiotés grego deriva nosso idiota atual, que você sabe bem de quem se trata.
Lançamos uma campanha denominada fim do político profissional — o sujeito que abandona a profissão para ocupar cargos eletivos eternamente, como no caso de José Sarney.
Lutamos, dentre outras, por três coisas: 1ª) nenhum político pode deixar de exercer a sua profissão particular, compatibilizando-a com suas obrigações públicas; 2ª) nenhum político pode ser reeleito para o mesmo cargo executivo (salvo depois de longa quarentena) e 3ª) nenhum político pode exercer mais que dois mandatos consecutivos nos cargos legislativos (só podendo voltar depois da quarentena). José Sarney não teria exercido (nefastamente, diga-se de passagem) mais de 60 anos de vida pública se essa regra já estivesse valendo.
Mas por que acabar com o político profissional? Porque essa é uma das maiores fontes da endêmica corrupção no país, sobretudo entre o político e o mundo empresarial e financeiro (os três formam uma troyka maligna quando atuam pensando exclusivamente nos seus interesses, em detrimento do povo). Para se entender quais são esses ‘interesses’, basta parafrasear um influente (e desqualificado) político norte-americano (citado por Cristóbal Montes), que dizia: “O que os homens de negócios não compreendem é que eu opero com os votos exatamente o que eles fazem com as especulações e os lucros ilícitos.”
O Brasil não necessita apenas dos movimentos horizontais (povo nas ruas exigindo ética e melhores serviços públicos), mas, sobretudo, dos verticais, para extirpar da cultura os aspectos nefastos, incluindo fundamentos personalistas e aristocráticos (que conduzem a privilégios e mordomias, violando-se flagrantemente a igualdade). Nunca o Brasil será um país confiável se os velhos costumes, as crenças arcaicas e as ideologias desgastadas não forem dissolvidos de uma vez por todas (a começar pelo voto). Nunca atualizaremos o país, de acordo com o mundo globalizado e técnico que vivemos, se a velha ordem colonial e patriarcal, dos senhores de engenho escravagistas, dos políticos corruptos clientelistas, não for revogada.
Um ficha-suja não deveria jamais poder concorrer a novas eleições. O aprimoramento das nossas instituições passa pela proibição das seguidas reeleições. O velho sistema político está morto (e deslegitimado). Ocorre que o novo ainda não nasceu. É hora de lutar por profundas mudanças nos nossos costumes e tradições. Temos que promover uma lei de iniciativa popular para limitar a possibilidade de os políticos fazerem carreiras eternas na política.
Por
Luiz Flávio Gomes é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil
Fonte: O dia - Opinião
http://institutoavantebrasil.com.br/topicos/fim-do-politico-profissional/
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