26 de jul. de 2012

Lobo e rato




O regime sírio é capaz de usar armas químicas contra o seu próprio povo e compactua com a rede terrorista Al-Qaeda para realizar atentados com a finalidade de assustar a população e desacreditar os rebeldes. Estas são algumas das denúncias de Nawaf Fares, o ex-embaixador sírio no Iraque e até agora o mais importante desertor do regime.
Claro que as denúncias devem ser acolhidas com ceticismo. Fares é um rato saltando do navio. Ele tem sua própria agenda. Foi por 34 anos um serviçal de uma ditadura, trabalhando inclusive no aparato de segurança. Espera agora que sua delação seja premiada, como acontece com tantos bandidos.
Uma deserção incentiva a outra, o que pode contribuir para a implosão do regime. Enquanto isto, a própria Damasco já é cenário de combates e a TV estatal informou que nesta quarta-feira, o ministro da Defesa foi morto em um atentado na sede da Secretaria de Segurança Nacional, assim como o segundo em comando, que era cunhado do ditador Bashar Assad.
Mas, de volta a Nawaf Fares, fascina descobrir o que existe de verdade nas suas denúncias, que carecem de provas. Numa entrevista à BBC de Londres, Fares disse algo interessante: “Eu construi minha opinião com base na mentalidade do regime”. Aí, ele sabe do que está falando. Se temos motivos para desconfiar do rato que salta do navio, temos até mais para desconfiar daqueles que ainda permanecem. Basta ver como é nebulosa a história sobre este atentado que custou a vida de gente do alto comando do regime nesta quarta-feira. Afinal quem matou quem? Afinal, como aconteceram as mortes? Por que as pessoas morreram?
Fares afirma que Bashar Assad é um “lobo ferido”, capaz de fazer qualquer coisa para permanecer no poder, inclusive “erradicar a população”. Mesmo descontando muito do que este desertor fala, temos uma medida do que está jogo. Já vimos do que Assad foi capaz até agora, imagine encurralado?
Também preocupa o que está à frente, além desta ditadura. Como o ex-diplomata desertor, eu tenho poucas dúvidas que os dias de Assad estão contados (quantos?). E nas voltas que a vida e a política dão, um dia ratos como Nawaf Fares estarão novamente no navio. Ele espera retornar para uma Síria “livre e democrática”, ele que colaborou para isso aí: uma ditadura cruel e mentirosa. Nunca é fácil a missão de uma comissão de verdade e reconciliação.
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Colher de chá para o Nilton (dia 18, 10:22) por enfocar a capacidade de sobrevivência do regime Assad. 


Fonte:
Por:
Caio Blinder
De Nova York 

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