31 de jan. de 2012

Novos livros para o vestibular 2013


'Auto da barca do inferno' dá lugar a "Viagens na minha terra' (Foto: Reprodução)
'Auto da barca do inferno' dá lugar a "Viagens na
minha terra' (Foto: Reprodução)
Sai 'Auto da Barca do Inferno' e entra 'Viagens na minha terra'
“De Gil Vicente para Almeida Garrett, damos um salto do humanismo para o romantismo na literatura portuguesa. Gil Vicente é um produto muito mais visível desse período de transição da idade média para a idade moderna. Já “Viagens na minha terra” é uma obra muito mais complexa que “Auto da barca do inferno” do ponto de vista contextual e estrutural.
“Viagens da minha terra”, de 1846, é uma obra que mistura um relato de viagens com diário e a história da literatura portuguesa. Quando D. Pedro I volta a Portugal e assume o trono cria-se um período progressista de liberdade, Garrett volta do exílio e escreve a obra. Ele vai defender o governo e insere dentro do livro uma noveleta “A menina dos rouxinóis”, tragédia que mistura ficção e realidade. A obra vai gerar a referência histórica para o início de “A cidade e as serras”, de Eça de Queiroz, que continua na lista dos vestibulares.
José de Alencar segue no vestibular, agora com a obra 'Til' (Foto: Reprodução)José de Alencar segue no vestibular, agora com a
obra 'Til' (Foto: Reprodução)
Para o aluno, a dica para quem vai prestar vestibular no final do ano é já começar a ler o livro e buscar aulas sobre a obra. Somente a leitura pode não ser suficiente para compreender tudo o que está envolvido. É muita coisa para se absorver porque tem muita relação com o momento histórico de Portugal."
Sai 'Iracema' e entra 'Til'
"O livro “Til”, de 1872, é um romance regionalista, de fazenda. Ele desdobra dramas do interior do Brasil com uma trama, uma das especialidades de José de Alencar. O autor faz um retrato da cultura do interior do estado do Rio de Janeiro e suas conexões com a cultura urbana da capital. É um romance inferior à importância de “Iracema”, e em se tratando dessa referência de cultura urbana.
Na minha opinião, seria melhor que Fuvest e Unicamp tivesse escolhido uma obra como “Senhora”, que é muito mais contundente e complexo do que “Til”. O livro vai exigir do vestibulando analisar o choque entre as culturas urbanas e rural e perceber como Alencar é bom para caracterizar tipos, costumes e contextos."
'Dom Casmurro' deu lugar a 'Memórias póstumas de Brás Cubas', também de Machado de Assis (Foto: Divulgação/Editora Martin Claret)'Dom Casmurro' deu lugar a 'Memórias póstumas de
Brás Cubas', também de Machado de Assis (Foto:
Divulgação/Editora Martin Claret)
Sai 'Dom Camurro' e entra 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'
"A obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas” contém a síntese da obra madura e pessimista de Machado de Assise destaca a sua visão de mundo de maneira mais contundente e aberta.
Não dá para dizer, em comparação a “Dom Casmurro”, qual das duas obras é a melhor. Em “Brás Cubas”, de 1881, inaugura o realismo no Brasil ao lado de “O mulato”, de Aluísio Azevedo. Na obra, Machado está mais próximo às linhas do realismo do que em “Dom Casmurro”, que já é quase século XX (1899).
O autor faz no livro o retrato do contexto cultural do Brasil. Machado de Assis dá a sustentação em duas linhas filosóficas: o pessimismo de Arthur Schopenhauer e o niilismo, de Friedrich Nietzsche, com mais uma carga de ironia e crítica social. O livro mostra as angústias humanas, jogo das relações de interesses e vícios sociais. A obra rompe com todas as propostas anteriores do romantismo.
O vestibulando deve se atentar que “Brás Cubas” tem como base “Viagem da minha terra”. O processo de construção metalinguístico de Garrett é uma referência de Machado de Assis."
Vinicíus de Moraes e Carlos Drummond de Andrade (Foto: TV Globo/Reprodução)Saiu Vinicíus de Moraes e entrou Carlos Drummond
de Andrade (Foto: TV Globo/Reprodução)
Sai 'Antologia poética' e entra 'Sentimento do mundo'
"De ponto de vista mais intelectual, Carlos Drummond de Andrade transcende Vinicius de Morais. Drummond é considerado o maior poeta da literatura brasileira ao lado de Manoel Bandeira. Este livro “Sentimento do mundo” foi publicado em 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. É uma visão universal dos dramas humanos que estava se passando em termos de inquietude, fragilidade e insegurança diante da guerra, não só o Brasil, mas todo o mundo. Os desdobramentos desse derramamento de sangue diante da guerra devastadora, aquilo encerra a cultura moderna.
Drummond projeta no livro este momento fulgurante com poemas magníficos que correspondem a um segundo momento de sua produção literária, no qual ele se preocupa com o Estado Novo de Getúlio Vargas e os horrores da Segunda Guerra. Tem um poema chamado “Eligia 1938” que fala sobre a explosão da ilha de Manhattan. Sem querer, Drummond relata o que viria a ser os ataques de 11 de Setembro (2001). Diz o verso final: “Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan”."
LISTA UNIFICADA DE LIVROS DO VESTIBULAR 2013 DA FUVEST E DA UNICAMP
Nome do livroNome do autor
LIVROS QUE ENTRARAM NA LISTA
"Viagens na minha terra"Almeida Garrett
"Til"José de Alencar
"Memórias póstumas de Brás Cubas"Machado de Assis
"Sentimento do mundo"Carlos Drummond de Andrade
LIVROS QUE CONTINUAM NA LISTA
"Memórias de um sargento de milícias"Manuel Antônio de Almeida
"O cortiço"Aluísio Azevedo
"A cidade e as serras"Eça de Queirós
"Vidas secas"Graciliano Ramos
"Capitães da areia"Jorge Amado

13 de jan. de 2012

Feliz 2012!!!


"Não somos educados para escutar o que dizemos.
Como se essa educação devesse ser privilégio do
psicanalista, e não um recurso ao alcance de todos.
O fato é que poucos são capazes de escutar-se,
e essa incapacidade é a maior razão do conflito
entre as pessoas e os povos"


A vida não é fácil e se torna impossível quando dizemos o que não deve ser dito. Com essa frase, eu poderia ter concluído a resposta dada a uma leitora da minha coluna eletrônica em VEJA.com, que corre o risco de prejudicar gravemente a própria filha por ser incapaz de se conter.
Ela deu à luz aos 16 anos por causa de um escorregão "daqueles que muita gente dá" e assumiu a responsabilidade materna, lutando para sustentar a filha e se ocupando de todos os detalhes da sua vida. Foi pai e mãe, durante mais de uma década. Só que agora, cansada de dar conta sozinha, perdeu a paciência e diz para a menina que ela não faz nada direito e não será nada na vida. Como se não bastasse, nos momentos de raiva, culpa-a pelo fato de ela própria não ter um emprego melhor, acrescentando que abriu mão de tudo para ser mãe. De tanto se sentir culpada, a menina responde que não devia ter nascido.
Não é preciso muito para perceber que essas falas – mortíferas – são uma condenação à infelicidade mútua. A mãe expõe a filha ao desejo do suicídio e a si mesma a uma perda irreparável. Mais comuns do que imaginamos, dão o que pensar sobre o poder da palavra.
Com ela, nasce o amor que move o sol e as estrelas, o doente pode curar-se e o morto segue para outro mundo sem deixar de existir no mundo dos vivos. Com ela, o consolo se torna possível e a dor da perda pode ser superada. A palavra serve para unir, curar, consolar... Mas também para desunir, prejudicar, desesperar... Em Grande Sertão:Veredas, Guimarães Rosa escreveu que viver é perigoso. Se substituirmos "viver" por "falar", teremos uma máxima igualmente verdadeira, pois falar também implica cuidado. Daí a razão pela qual se diz que o silêncio é de ouro.
Mas quem não fala não se liga realmente aos outros. Para encantar, é preciso correr o risco de decepcionar. Para ser aprovado, é preciso expor-se à desaprovação. Portanto, é imperativo falar. Isso significa que só nos resta saber falar, ou seja, não dizer o que não deve ser dito. Só resta a prudência, que, além de necessária, é possível, embora suponha vigilância contínua.
Nós nos fazemos por meio da palavra, e, no entanto, a consciência disso é insuficiente. Porque não somos educados para escutar o que dizemos. Como se essa educação devesse ser privilégio do psicanalista, e não um recurso ao alcance de todos. O fato é que poucos são capazes de escutar-se, e essa incapacidade é a maior razão do conflito entre as pessoas e os povos.
Quem se escuta está mais preparado para fazer bom uso da palavra. Para usá-la como um fio que conecta ao outro, e não como uma espada que separa e mata. A sorte depende menos do que nós possuímos do que do nosso controle, o de que nos tornamos capazes por termos aprendido a escutar o outro e nos escutar.

 Betty Milan, psicanalista e escritora.